Por: Alessandro Buzo
- Papo é o seguinte. Poucas palavras no rádio. Tudo certo pra ter início em 10 minutos, exatamente às 14h.
- Copiado. Respondeu Douglas.
A equipe dois tem Douglas, Brita e Mauro.
Assim que recebeu a senha de 10 minutos, Douglas pede 1 minuto pros companheiros e sai do carro.
Liga pra esposa: - Amor, não posso explicar nada agora, mas hoje eu resolvo nossa situação, não vamos ser despejados, nem nossa filha vai ficar sem remédio.
- Onde VC está Douglas, pelo amor de Deus não faz nenhuma besteira.
- Desligo e se acontecer qualquer coisa, lembra que eu te amo e amo nossa princesinha, manda um beijo pra nossa Bruninha. Tchau.
- Onde VC..... TU TU TU TU
Desespero de Cristina, esposa de Douglas. Por conta das despesas com o tratamento da filha que nasceu com um rara doença, eles se endividaram e agora estão prestes a serem despejados.
Equipe um tem MONTANHA, o chefe.... Cavera e Paulo. Mais Mônica e Valeska.
O plano foi minuciosamente passado até a exaustão. MONTANHA e Valeska já foram na joalheria, já compraram um anel. Almoçaram na praça de alimentação, viram toda a movimentação dos seguranças.
Paulo e Mônica também foram. Fizeram quase as mesmas coisas.
Elas, bonitas. Recrutadas por MONTANHA num puteiro no extremo da zona sul de SP. Não sem antes ganhar a confiança das moças, com noites de sexo, gordas caixinha, passeios pra jantar fora do puteiro, complicidade. Elas gostam de vida boa e MONTANHA sempre tem dinheiro e vontade de trepar, porque elas também gostam muito.
Logo descobriram de onde vinha, quando numa cantina, na hora de pagar a conta ele sacou uma pistola e levou tudo que tinha no caixa, deu um saco preto pra Valeska e disse: - Pega celulares e carteiras na mesa, quem tentar esconder eu mato sem piedade. Choveu celular e Valeska pegando tudo. Se sentiu a bandida quando viu um moça com um colar lindo e disse: - Tira bebê, que o colar agora é meu.
A equipe 1 entra no shopping e caminham tranquilamente por outros corredores até exatamente 14h30, a segurança muda o plantão esse horario, menos vigilantes. Os dois casais entram no mesmo momento, anunciam o assalto, eles fortemente armados e elas recolhendo as jóias, sabiam a vitrine das mais valiosas.
A equipe 2 fica de bobeira nas proximidades, estacionam proximo do carro da fuga da equipe 1, no horario que começou o assalto lá no primeiro andar e se pintar polícia, são o reforço da quadrilha.
14h30, parte o carro da equipe 1, a equipe 2 ainda fica a postos, sabem a hora de partir pra estacionar 14h30. Fizeram o percurso 1.000 vezes, com carros diferentes pra não levantar suspeita.
Tudo começa a funcionar como um relógio.
Antes do horario, Paulo pagou sorvete de creme pra Mônica, ela loira e linda, pondo sorvete na boca dele e sorrindo.
Meio frio, ele com blusa leve de capuz. De grife, diga-se de passagem.
Na praça de alimentação famílias e gente de negócios em horario de almoço tardiu.
Nos corredores a maior normalidade do mundo numa terça-feira de um grande shopping.
MONTANHA e Valeska viram os cartazes dos filmes na entrada do cinema, bebeu um chopp na passagem pela praça de alimentação, dali levantaria na hora exata de chegar 14h30 na loja, um minuto dali até lá, 14h29 ele levanta, relógio ajustado com o dos amigos.
Cavera chegou antes, almoçou na praça e está dando cobertura pro chefe MONTANHA. MONTANHA e Valeska levantam ele aguarda um pouco e levanta também. 1 minuto de tempo pra ele ter chego a joalheria.
De um lado do corredor vem MONTANHA e Valeska, do outro Paulo e Mônica. Entram no mesmo instante, o MONTANHA rende o gerente e duas moças, pede pra ninguém gritar. Agir com naturalidade.
Paulo rendeu a outra vendedora e uma cliente.
Todos fizeram silêncio, clima tenso.
Valeska e Mônica enchem duas bolsas que antes elas carregavam vazias de jóias, partem os 4 com o Cavera atrás, nada de segurança e muito menos polícia.
O assalto só é percebido na saída da loja, a gerente saiu desesperada, ela estava em estado de choque. Ligaram rapidamente pra polícia, outra loja que tem um nextel de uma viatura das imediações, avisou o CABO MOKA, que estava proximo e deu ordem pra Blazer ir pra saída do shopping.
Quando a Blazer virou, o carro do MONTANHA e o Paulo numa moto com a Mônica, já tinham dobrado a esquina, quem estava na linha de frente saindo era a equipe dois, Mauro era o piloto e Douglas e Brita estavam atrás armados. Vendo que a perseguição seria pior, pararam no meio da rua, abriram a porta, desceram e metralharam a blazer. O motorista jogou pra cima de um carro estacionado e revidaram os tiros, mas a munição dos pm´s era inferior, Douglas e Brita estavam com uma lurdinha (metralhadora) e Mauro com duas pistolas.
Quando os pm´s estavam escondidos dos tiros e a viatura batida eles seguiram fuga, mas na hora de entrarem no carro Douglas foi atingido, Brita abriu a porta e mandou ele subir. Mas Douglas tinha caído morto, o tiro pegou na nuca.
Mauro acelerou, Brita disse: - Ele morreu cara, o Douglas morreu e ele é o único que não é do crime.
- Mas morreu como homem, representou na hora das troca com os bota. Vai ter a parte dele.
Toda quadrilha dispersou, jóias guardadas uma semana até o receptador retirar e pagar. Ninguém se vê ou se fala ao telefone nesse periodo. MONTANHA deu um perdido uma madrugada, foi até o puteiro e tranzou com Valeska, Mônica havia abandonado o oficio, mas Valeska dizia que só sairia do puteiro quando MONTANHA montar uma casa pra eles.
Treparam feito doidos e nem uma palavra sobre o assunto assalto. Na saída ele..... - Tudo 100% como combinado.
Disse na hora de pagar pelo serviço, dando a frase um duplo sentido.
MONTANHA disse que era morte pra quem furasse o jejum de uma semana sem se ver nem se falar. Mas ele era o chefe e precisava tranzar com Valeska, imaginava ela no puteiro com outros caras, isso nunca o incomodou porque pra ele ela era só uma amiga puta, mas parece que o sentimento anda querendo falar mais alto, mas MONTANHA não demonstrava nada. Ele é frio e calculista. Em tudo. Só é quente na hora de tranzar com Valeska que é ambiciosa: - Se eu não gostasse de dinheiro não estaria aqui nesse puteiro dando pra esses caras que chegam aqui bebados na madrugada, alguns deles gastando o dinheiro que era pra outras despesas do lar, mas o alcool o levou até o inferno e ele queria abraçar o capeta que atendia por Valeska, mas que nasceu Camila.
Um dia após o assalto, joalheria não divulgou o valor mas estimasse em torno de R$ 500 mil, a polícia havia identificado o morto e bateram na sua casa, Cristina atendeu e vendo a polícia pensou o pior e caiu em desespero, o seu marido não havia retornado depois daquele telefonema, só ela e sua mãe sabiam do telefonema, mas nem sonhavam no que ele havia se metido pra arrumar dinheiro.
O tenente comunicou a esposa e perguntou: - VC sabia do envolvimento dele ? Tem armas ou drogas na casa ?
- Nada disso, nunca imaginei.
Correu pro quarto da filha, pegou ela no colo. Clima ficou tenso, ela poderia ter sido baleada.
Uma polícial se dirigiu ao tenente e disse: - Nessa casa não tem nada senhor.
Uma assistente social passou a falar com Cristina. Ela parecia em choque. Sua mãe chegou nesse momento e falou com a polícia, Cristina não tinha condições de nada.
No velório um homem, não era nenhum da quadrilha, era um laranja que ganhou R$ 200,00 pelo serviço. Chegou na mãe de Cristina e disse: - Meus pesames, eu era amigo dele (tudo baixinho no ouvido), queria ajudar nas despesas, acabei de por um envelope branco no lixo ali fora, é uma ajuda pras despesas.
Dona Marta olhou o homem se afastar, depois como que caindo a fixa do que tinha ouvido foi lá e pegou o envelope, sem saber o que fazer resolveu ir ao banheiro e contou R$ 5.000.00
Só contou pra Cristina no dia seguinte, o irmão do Douglas que mora em Ribeirão Preto foi quem emprestou R$ 2,000,00 pras despesas de funeral, havia dito que não havia pressa em receber de volta e que 50% do valor era uma ajuda dele.
A polícia vigiou a casa de Cristina por alguns dias. Viu quando ela um dia antes de ser despejada se mudou pra casa da mãe dela.
Deixaram de se preocupar com ela em 10 dias.
No dia que o assalto completou 1 mês, a família fez uma missa, haviam feito uma de sete dias.
Na saída da igreja, MONTANHA chega em Cristina como quem cumprimenta e diz: - Seu marido morreu como um homem e aqui está a parte dele, rendeu 450 mil, dividido por oito, menos despesas com quem deu a fita, tem 50 mil em dinheiro na sacola que eu deixei ali, e apontou pra um banco com Valeska sentada. MONTANHA saiu por um lado, Valeska por outro. Cristina disse: - Mãe, pega a minha sacola ali.
Em casa contaram o dinheiro. Cristina lembrou da frase do Douglas ao telefone: - Amor, não posso explicar nada agora, mas hoje eu resolvo nossa situação, não vamos ser despejados, nem nossa filha vai ficar sem remédio.
Não foi hoje, o despejo já foi.... mas o tratamento da filha poderia ser um pouco melhor.
Cristina nunca descobriu como Douglas se envolveu...... agora que ele morreu. Ninguém sabe, nem eu.
Alessandro Buzo é escritor
www.buzo10.blogspot.com
sábado, 27 de julho de 2013
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