quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Crônica Inédita

Hip Hop, Funk.... na mesma periferia.
Por: Alessandro Buzo

Hoje em dia, um assunto quando é eleito pela mídia, só se fala nisso por semanas.
O assunto do momento são os chamados "rolezinhos", encontro de jovens que curtem funk ostentação. Até ai, normal.... mas escolheram como local desses rolezinhos os shopping´s centers da cidade, templo do consumo e da "família" brasileira, a praia do paulistano.
O primeiro encontro, que teve mais gente envolvida foi no Shopping Metrô Itaquera, anexo ao metrô, fácil acesso.
De lá pra cá, teve liminar impedindo encontro, PM expulsando os jovens de estabelecimento, denúncias e muita, muita mídia.
O que me levou a escrever essa crônica foi uma matéria que vi na TV e outra que li no portal G1.
Na TV vi jovens de 13 anos explicando que são FAMOSINHOS (palavras deles) na internet, redes sociais.
Ai eles juntam centenas, ou milhares de FÃS no FACE. O Rolezinho nada mais é do que esse FAMOSINHO que convocou seus FÃS pra conhecerem ele pessoalmente. Onde ? Nos shoppings.
O menino que falava e se dizia FAMOSINHO, deve de ter uns 13 anos de idade, cara de criança total.
Todos eles sonham em se tornar um cantor de FUNK, deixar de ser FAMOSINHO e se tornar FAMOSÃO.
Na matéria do G1, jovens de Guaianazes e Jardim Nazaré, extremo leste de SP, que frequentam os ROLEZINHOS (desses lugares citados, trens e ônibus desembocam no METRÔ ITAQUERA). Esses jovens (15 à 19 anos), dizem que vão ao ROLEZINHO se divertir, porque na sua quebrada não tem opções de lazer. Isso é FATO.
Além de se divertir eles querem beijar umas mina. E mais de um na reportagem diz que vai também pra comer LANCHE NO MC DONALD´s.
Teve um que disse que OSTENTAÇÃO é só um sonho (que pretende realizar virando funkeiro), mas hoje o que ele tem é um TÊNIS MIZUNO de R$ 1.000,00 que comprou a prestação, provavelmente num shopping.
AGORA minhas conclusões.....
Acho, pelo que li, vi e assisti na TV, além do que eu vejo pessoalmente no dia a dia das quebradas, seja no Itaim Paulista (onde cresci e vivi a vida toda), ou noutra onde constantemente gravo pra TV.
Que essa garotada de 12 à 18 anos que são o PÚBLICO do FUNK, são jovens que cresceram vendo muita TV, vendo seus pais trabalhando de sol a sol (saem cedo demais e voltam tarde e cansados demais a noite), dando pouca atenção pro filho que cresce, cheio de dúvidas e incertezas.
Outro fator é que o pai que trabalhou a vida toda (e ainda trabalha) e nada tem, está deixando de ser o SUPER HERÓI desse jovem, ele mesmo, pode no FACE, ficar FAMOSINHO, ganhar dinheiro e não viver a mesma vida, se orgulha do pai, mas não quer aquilo pra ele.
Vejo essa garotada, sem um direcionamento pra Deus, família, cultura, estudos, futuro.
Querem o AGORA, o hoje....
Quase 100% desses jovens não lê livros.
Com esse cenário, se multiplica o funk e os funkeiros na quebrada, na rua da minha casa no Itaim Paulista é funk nas casas, nos bares e nos carros. Vez em quando rola até um pancadão com tudo que se tem direito no inferno, bebida, droga, mulher e o direito de abraçar o capeta. LIBERDADE.
Porque no título dessa matéria citei o Hip Hop.
Esse público gigantesco é filho de uma geração que curte RAP, SAMBA, REGGAE...
Mas enquanto eles cresciam (de 2000) pra cá, o RAP estava MUITO MAIS PREOCUPADO com outras coisas do que em FORMAR PÚBLICO JOVEM. Quem fez um pouco desse trabalho foram os SARAUS, porque os RAPPERS deixaram a desejar.
Perdemos uma geração de jovens pro Funk porque no RAP NADA PODE.
Mano, no Hip Hop tem muita gente te POLICIANDO e de polícia o moleque da quebrada ta de saco cheio, quando mais de gente que nunca fez porra nenhuma pra eles, dizendo o que pode e o que não pode fazer.
Ele quer mais é ser FAMOSINHO.
O Hip Hop e principalmente o RAP, saiu muito (por anos) da quebrada, teve um tempo que só nas casas noturnas (pagas, longes e caras) tinha evento de RAP.
O grupo A, B, C, D..... ia lá na casa noturna, até ai é TRABALHO. Mas esqueceu demais de continuar FALANDO e FAZENDO pela SUA QUEBRADA.
Dando atenção pra molecadinha da sua comunidade, ser o REFERÊNCIA pra ele. Agora que o cara ficou famoso, só é VAN parando na porta.
Faltou (eu vi, ninguém me contou) isso. Dar atenção pra molecada que crescia, filho dos cara que eram (ou são) seus fãs.
O RAP não teve isso. Cativar o jovem que não cresceu nas ruas de terras do Itaim Paulista como eu, ele cresceu no mesmo Itaim Paulista, mas a rua já era asfaltada, tem TV a GATO, INTERNET.
O moleque cresceu ON LINE, no MSN, ORKUT, FACE.
Agora todos tem sua câmera fotografica e tira fotos deles mesmos e postam.
E o RAP ainda está no TEMPO de dizer o que pode e o que NÃO PODE PRINCIPALMENTE.
Tem um MC (prefiro não citar um nome nesse texto, mas todos sabem quem é) que está no BBB.
Perdesse HORAS debatendo se devia ter ido, ou não.
Pergunta pro FAMOSINHO se ele queria estar no lugar desse MC ?
Deixa o cara ter o direito de fazer a opção dele, de ir, de representar.
Se vai ser bom pro futuro dele, é problema dele, vai que esse futuro seja milionário, ele tentou, era 1 em 20 chances, bem mais fácil que a MEGA DA VIRADA.
Deixa o cara, a vida dele. Só ele sabe as contas que tem pra pagar.
Mas ficam debatendo isso, aquilo, se era, se podia, se representou, se amarelou, se é um vendido.
Quem cria isso, ou quem criou esse NADA PODE DO RAP, fez isso em outra época, outro SÉCULO, nos anos 80, acorda gente, estamos em 2014, agora é 4G.
Nem criou isso por mal, era outra época mesmo. Não tinha INTERNET na quebrada, no celular dos jovens, hoje tem.
Mas venho os anos 2000, 14 anos se passaram desde que o mundo não acabou como havia dito Nostradamus ou sei lá quem mais.
E muita gente ainda segue essa CARTILHA de NÃO PODE ISSO, NÃO PODE AQUILO.
Isso afastou essa geração do HIP HOP e eles encontraram o FUNK onde tudo pode e mesmo sem CANTAR, você pode ser um FAMOSINHO e bombar, lotar um shopping, dar uns beijo e comer no MC DONALD´S, tudo isso do seu celular diretamente de Guaianazes, Itaim Paulista, Pirituba, Capão Redondo, Jardim Brasil.
Esses jovens que se multiplicam dia a dia, poderiam ser uma legião do RAP, mas querem mais é se divertir, ir no shopping.
Teve um monstro sagrado do RAP que foi na plim plim esses dias e teve nas redes sociais, pessoas chamando ele de VENDIDO, ignorando TODA A TRAJETÓRIA da pessoa, tudo que ele já fez e ainda faz pelo movimento, nas redes sociais, uns tão ligados nos perfil dos FAMOSINHOS e os mano do RAP, tão tudo falando mal de quem foi na TV, quem cantou com BELTRANO do Rock, com ciclano do sertanejo. NÃO PODE PORRA.
Enquanto isso vi esses dias na TV, um desses astros do sertanejo, o cara tem Porche e AVIÃO PARTICULAR. "Todo artista" (que estoura um sucesso) da música fica rico, em todo segmento musical, até no FUNK, menos no RAP, porque ? No RAP GANHAR DINHEIRO É SE VENDER.
Um MC disse (esses dias) que porque não pode se tornar um milionário ?
E teve nas redes sociais gente PURITANO PRA PORRA dizendo. Enquanto os jovens passam fome nas quebradas, vc vem me dizer isso.
Mano, os jovens não tão mais nessa de coitadinho não, eles tão é querendo beber ABSOLUT, Black Label, ter CARRO, TÊNIS. Bombar nas redes sociais, ser FAMOSINHO e se tudo der certo, ser mais um FUNKEIRO FAMOSO e ganhar DINHEIRO.
Enquanto isso no nosso querido, amado hip hop, ainda estamos na época do NÃO PODE ISSO, NÃO PODE AQUILO, NÃO PODE IR NA TV. E com isso nossa mensagem é passada cada vez pra menos gente, a maioria ta ouvindo FUNK.
Vamos acordar, evoluir.... senão, na proximas gerações seremos só nos mesmos de hoje, tudo veinho e dizendo: - NÃO PODE ISSO, NÃO PODE AQUILO.
Teve MC famoso de RAP declarando e tornando público que disse NÃO pra mídia e a FIFA. Ótimo, que tenham essas pessoas. Elas tem o direito de NÃO IR, NÃO QUERER.
Só não podemos é dizer que quem foi é VILÃO e quem não foi é HERÓI.
Ou vice versa....
Temos que voltar nossa atenção pra quebrada, só a CULTURA, ESPORTE e EDUCAÇÃO podem combater a VIOLÊNCIA.
Me tire da sua lista, ou posso tudo que eu quiser .... a VIDA, CARREIRA e CONTAS PRA PAGAR são minhas. Deixa que da minha vida, cuido eu.
O RAP precisa sair dos anos 80 e enfim, chegar ao século XXI.

Alessandro Buzo é escritor, cineasta, militante da cultura Hip Hop e apresentador de TV, nascido e criado no Itaim Paulista no extremo da zona leste.

www.buzo10.blogspot.com
TWITTER: Alessandro Silmara Alessandro Buzo

Link da matéria do G1

http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2014/01/rolezinho-nas-palavras-de-quem-vai.html

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