A Rainha do Cine Roma
Autor Mexicano diz mais sobre o Brasil. Uma obra que emociona
por Jéssica Balbino
O melhor livro que li nos últimos tempos. Essa foi a sensação que fiquei quando cheguei no ponto final do romance “A Rainha do Cine Roma”, de Alejandro Reyes.
O mexicano que viveu em países como Estados Unidos e França conhece mais sobre o Brasil do que os nascidos nas terras descobertas por Cabral. E mais, escreve, com tanta propriedade, em sua literatura marginal, que tira o fôlego. Um livro preciso, direto – sem ser óbvio – triste, mas não sem deixar um rastro de esperança a cada novo acontecimento.
Na orelha, o veterano Ferréz avisa: “Alejandro Reyes prova, de uma vez por todas, que a dor é a maior escola que existe”. É verdade. As histórias de Betinho e Maria Aparecida, duas crianças que receberam do destino o pior que a vida poderia dar, se fundem com as nossas histórias, do dia-a-dia, da falta de sorte – ou seria excesso de azar? -.
Um livro forte. Que te faz mais forte. Duro, cru e cruel. Mas, real. Assim como a literatura marginal, periférica ou seja lá o nome que quiserem dar a quem fala dos excluídos, dos que vivem, como Betinho e Maria Aparecida, se alimentando com restos, dormindo em locais fétidos, em meio a ratos e baratos e que são obrigados a conviver com todo tipo de dor, abuso, e fragilização.
Duas crianças que ninguém – tampouco o sistema – jamais protegeu e que se amam, acima de tudo. E é esse amor que as faz chegar ao ponto final do livro, que sabemos não ser o ponto final de suas vidas e desgraças.
Mas há histórias felizes, de alegria, esperança, diversão e amor. Sim, amor, mesmo nas ruas de Salvador, uma cidade com todas suas cores e loucuras, exatamente como é mostrada no livro.
Alejandro Reyes é de uma escrita impecável. Com o português direto e sem firulas, nos mostra um mundo que, com frequencia, tentamos não ver. Aliás, nos esforçamos para escondê-lo, mascará-lo.
Amores proibidos, verdades, mentiras, noites de sexo louco, dias de lágrimas intermináveis, muitas horas – ou dias – sem comer e somente uma coisa: a esperança de dias melhores. Afinal, são duas crianças que não querem muito: apenas ficar juntas, num lugar que não cheire mijo e não tenha ratos por perto. Ah, e que não sejam agredidas simplesmente por morarem na rua.
Entre os inúmeros que já passaram pela minha mão neste ano. O melhor. Tão bonito quanto a Rainha do Cine Roma se tornou na minha imaginação.
Jéssica Balbino
Jornalista
www.jessicabalbino.blogspot.com
quarta-feira, 20 de julho de 2011
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