domingo, 30 de maio de 2010

Às vezes me sinto só

Por: Patrícia Raphael

Às vezes me sinto só...
Ai vem você...
Vem como se fosse me tocar
Por inteira...
Cobrindo-me de beijos e ternura
Com tanto carinho
Me toma de jeito manso
E me torno real
Me toma de jeito forte!
Sinto presente na tua vida
Não penso mais
Nos tempos de solidão

Patrícia Raphael é poetisa em Itajai - SC

+ Patrícia Raphael..........
Abandonada

Única e versátil...
Sobre lençóis
Há tempo ainda de recuperar
No rosto?
Uma lágrima sem chorar
A uma facilidade enorme

E fico ao teu lado
Sem dizer uma única palavra
A resposta esta em tudo

A verdade sobre mim
Esse detalha que vai descobrir
No corpo em chamas
Em desespero

Do momento em que ti vi
Respirei em lembranças marcantes
Como te conheceste

Paro de me fazer de rogada
E enquanto me desvio
Carrego magoas...
E meu segredo: sinto-me abandonada

Percorro
E te procuro!
Envolve-me
Comove-me
Sem chance alguma

Penso na nossa trajetória...
Que nascei em uma coincidência
Acabou em nada

Ergui-me meus sentimentos
Das ilusões?
Só restaram saudades!

Patrícia Raphael é poetisa em Itajaí - SC
e-mail: patricia.raphael@yahoo.com.br

O Dia Que Carla Camuratti Achou Um Sorriso (FINAL)

Por: José Carlos Alcantara
josecarlospeu@gmail.com

A diretora era uma mulher de rosto redondo, mas, bela. Emboraestivesse envelhecendo e as marcas da passagem do tempo estarem sefazendo bastante visíveis, ainda era bastante sensual. Usava óculoscomo todos os professores deste mundo, e conseguia passar muitaconfiança e ser persuasiva ao falar. Ao mandar Carla levantar-se e iraté o banheiro, conseguiu ser persuasiva. Disse que era para elamelhor recompor-se, e ir para sua casa, pois naquele dia não haveriaaulas. Disse, também, que não se preocupasse com as horas do estágio,ela assinaria como se aquele tivesse sido um dia normal. Quando saiu do gabinete, um dos sacripantas que a assustou ao vir emsua direção com um pequeno saco transparente com um dedo sujo desangue dentro, desculpou-se pelo susto que lhe dera e lamentou o fatode que ela veio a desmaiar. Carla aceitou as desculpas, não era culpado homem o fato de ela não estar preparada para ver um dedo decepado.Se o corredor estava mal iluminado, isso também não era sua culpa.Carla ainda estava meio tonta, e ao andar pelo corredor do colégio,mesmo que o prédio tenha passado por reforma recentemente, parecia queela via musgo e infiltrações que vazavam água continuamente no teto enas partes superiores de ambos os lados do corredor. Era como setivesse entrado em um outro mundo, e nesse mundo estranho, a luzoriginava-se de velas em candelabros de cobre. As velas, com suaschamas bruxuleantes que deformavam todos os objetos que tocavam,produziam, pelo seu halo projetado nas paredes, sombras ameaçadorasnum tom que misturava azul da Prússia com terra de Siena queimada. A jovem sentia medo e questionava-se quanto a se dar o próximo passoera algo sensato. Sentia o suor escorrendo por seu rosto e por suaspernas. O seu coração estava acelerado. Seus olhos tentavam compensara miopia, o astigmatismo e a escuridão por se dilatarem. Não sentiu osusto precursor do desmaio e, por este motivo, deu um passo incertorumo à escuridão que se pronunciava infinita e inevitável. Antes dedar mais um passo, pensou que cairia num buraco, talvez numa masmorra.Pensou que estava num velho castelo medieval. Mas, resolveu dar opasso, posto que já fizera este percurso da sala da diretora até obanheiro dos professores infinitas vezes e nunca, nem uma única vez,reparara na escuridão, no musgo, nos vazamento ou nas velas. Decidiuque não devia confiar completamente em seus olhos, e deu o passo rumoà escuridão infinita. Se viesse a cair, era porque sonhava, e seestivesse sonhando, acordaria deste pesadelo em sua casa, com toda aproteção que uma cama pode proporcionar. Ao dar um passo após outro adentrando na escuridão, Carla percebia quea luz, ou o alcance dela, era ritmado pelos seus passos. Á medida quedava um passo à frente, a escuridão retrocedia, também, um passo.Consequentemente deu um passo após outro, dançando pelo corredor,forçando a luz a bailar com ela no ritmo que escolhesse. Um passo emsalsa, outro em valsa, um terceiro em bolero ou ragtime. Ao chegar ao banheiro não mais sentia tanto medo quanto antes. Abrindoa porta, sentiu um cheiro ocre, que por um segundo associou ao odor dovinagre, mas, no segundo seguinte, desconfiou que não era exatamentevinagre o cheiro que sentia. Não havia muita luz no banheiro e Carlaabriu a porta com a mão esquerda e, sem demora, com a mão direitatentou encontrar o interruptor que faria o favor, se alcançado, deiluminar todo o espaço ali. Não encontrou. “Coisa estranha. Havia uminterruptor aqui ainda ontem, ou antes de ontem, já não lembroexatamente de mais nada.” – Pensou ela. A luz que entrava pela janelaera parca e não iluminava quase nada. O chão do banheiro estavamolhado, dava para ver o reflexo da luz que entrava pela janelarefletindo no líquido no chão. Carla sentiu nojo, pois não sabia se aágua era limpa ou suja, deveria ter cuidado para não sujar-se. Davapisadas cautelosas no chão, como que pisando em ovos. Forroucuidadosamente e com delicadeza o assento do vaso sanitário com papelhigiênico. O odor nauseabundo do vinagre, ou de alguma outra coisa quenão conseguia identificar, ficava mais forte ao passo que o banheiroficava mais iluminado. O cheiro fez com que sua boca salivasse, o queaumentava o desconforto e impedia que fizesse suas necessidades comrapidez. Com a demora, teve mais tempo paradeslocar seus olhos míopes pelo banheiro, prestando mais atenção nosdetalhes que anteriormente eram ocultados pela escuridão. Levantou-se, pegou um tanto de papel e secou-se. Olhou ressabiada umamassa disforme que estava num canto do banheiro, em baixo da pia.Parecia ser lá a origem da água no chão e o odor de vinagre. Levantoua calcinha, abaixou a saia e ajeitou-se. Deu um passo em direção àpia, fixou o olhar e, sim, teve a certeza que o que estava vendo erauma dentadura. “Achei um sorriso! Mamãe, achei um sorriso!” – Pensouela, lembrando da pitoresca história da menina que achou uma dentadurae, em sua inocência, pensou ter achado um sorriso.Mas, havia alguma coisa estranha com aquele sorriso. Estava sujo eenrolado no que parecia ser um pano de chão igualmente imundo. A luzque entrava pela pequena janela, iluminava preguiçosamente o pequenobanheiro. Carla, querendo aproveitar melhor a luz, tirou os óculospara limpá-los e assim poder examinar detalhadamente o sorriso queestava vendo ali no chão, bem á sua frente. Teve a impressão que osorriso era para si. Depois de limpar bem os óculos, pensou quefinalmente poderia ver o que havia ali. Recolocou-os com cuidado eassustou-se ao reconhecer uma mandíbula humana e uma arcada dentáriacompleta. Fechou os olhos, mas, infelizmente, a imagem já havia sidocapturada por suas retinas e jamais iria permitir que voltasse aoAnatole. Haviam serrado, provavelmente com uma serra de cortar ferragens emconstrução civil, a cabeça de um rapaz na altura do nariz. Nãoavistara lábios e a pele da face havia sido retirada. Uma das orelhasestava pela metade, enquanto a outra estava intacta. Carla vomitou oque havia comido no café da manhã. Saiu correndo do banheiro e gritoupor socorro, com todas as forças que haviam ainda em seu corpo. Aprimeira pessoa a atender seu pedido de socorro foi Rita de Cássia, afaxineira do colégio, que a abraçou maternalmente. - O que foi minha criança? Não tenha medo, você não está mais sozinha.- É horrível! É horrível! Lá no banheiro tem... – Calou-se, sem saberdescrever exatamente o que acabara de ver. Dona Rita a deixou no chãodo corredor, recostada na parede. A diretora, policiais e outraspessoas estavam se aproximando quando Rita entrou no banheiro para vero motivo dos gritos, mas, saiu quase no mesmo instante gritando,desesperada, “Cruzes! Cruzes!” Ela não conhece latim, e mesmo seconhecesse, dificilmente sairia gritando“Stauros! Stauros!” Mais ou menos no mesmo instante, num outro pontodaquela comunidade, odono da boca de fumo ordenou que tudo aquilo deveria parar. - Não quero mais nenhum morto na minha comunidade. Um morto trás, emmédia, uns dois policia. Se o morto for um policia, ele trás uns dezoutros policia e eu não lucro nada. Ninguém lucra com uma guerra nacomunidade, nem a polícia nem eu. Ninguém sobe um morro pra comprarbagulho, pra gastar dinheiro, com medo de ser grampeado pela políciaou com medo de levar um tiro na cabeça numa guerra de facção. Quem medesobedecer vai ser desovado no lixão. Espalhem essa noticia pra tudoo que é vagabundo, eu quero paz. Ninguém vai morrer na minhacomunidade. Simples assim, por decreto, a morte foi abolida na comunidade onde selocaliza o colégio Anatole France. Para isso, até uma trégua foi feitacom a outra facção. A notícia foi espalhada velozmente. Cada homem,rapaz ou menino que ouviu estas palavras foi contá-las para o primeirohomem, rapaz ou menino que encontrou pela frente. Esta correntecontinuou a crescer até o ponto em que todos os seres vivos nas duascomunidades sabiam de todas as vírgulas da sentença. No interior do colégio a mandíbula dentro do saco plástico pareciasorrir e, se sorrir fosse mostrar os dentes, era exatamente isso quefaziam aqueles 30 dentes ensangüentados. Sorriam debochando de umasociedade que já ultrapassou a barreira entre selvageria e civilidadehá muito tempo, mas que não tinha coragem o bastante de admitir estefato.Carla foi levada para casa pela própria diretora e, do interior docarro, olhava os homens armados que impediam o direito dos homensdesarmados ir e vir, vir e viver. Num esforço descomunal, verteulágrimas como sacrifício em favor dos pecados do mundo. Ela como quetorcia sua retina em busca de mais algumas gotas de lágrima. Já haviachorado muito naquele dia, parecia não ter mais gota alguma de lágrimaem seus olhos. Sentia-se cansada. Não lutaria mais contra o mundo ásua volta. Sentia-se pronta para conformar-se com o mundo à sua voltapassivamente. Chegou á conclusão que sua luta muda contra o sistema,inevitavelmente, resultaria em derrota. Ao descer do carro na entrada da comunidade onde morava, não queriater de responder perguntas sem sentido, e mesmo que estivesse decididareagir ao mundo de forma passiva, poderia começar a agir assim no diaseguinte. E, quando os bandidos puseram-se em seu caminho e lheperguntaram “em quê o movimento de contracultura tinha contribuídopara o pensamento de responsabilidade social das empresastransnacionais”, Carla não suportou a hipocrisia do mundo e deu umgrito com todas as forças que lhe restavam. Libertou de uma só veztoda a insatisfação de ser cerceada no que tinha de mais precioso, sualiberdade. Sua insatisfação quase se fez um objeto concreto ao atingiros homens armados parados á sua frente.- Saiam da minha frente, seus abutres! Não responderei ás suasperguntas descabidas! Monstros! Imbecis! Entrar em minha própria casasem dar satisfações é meu direito! Nunca mais vou responder perguntaalguma! Liberdade ou morte! No momento em que estas palavras foram articuladas pelos músculos nagarganta de Carla, a terra parou em seu eixo e, junto com ela, pararamtodas as pessoas que passava ali naquele momento. Todos ficaram naexpectativa de verem como seria a reação dos facínoras. Algumasmulheres de idade indefinida com lenços coloridos na cabeça e vestidode chita começaram a chorar e se bater em lamento, como aquelasmatronas do Oriente Médio, na verdadeira Faixa de Gaza, que choram ese batem quando o exército de Israel mata seus jovens, que segundoelas, não tinham envolvimento com o terrorismo. As mulheres daquisofriam por antecedência o fim, que davam como certo, da pobre mocinhaque ousava desafiar o tráfico. Mas, sabemos que lei é lei, e nenhummeliante ali seria tolo o bastante para desobedecer a uma lei do chefedo tráfico. Assim, nada aconteceu. Nunca mais pararam Carla ao entrarou sair da comunidade. Era do grito de liberdade que ela precisavapara que o nó que sentia na garganta fosse desfeito. De certo que tudoo que podia conseguir era uma pseudoliberdade amorfa, mas, já eraalgum começo. Melhor uma liberdade ilusória do que nenhuma esperança. Os dedos indicadores e mandíbulas continuaram a visitar os sonhos deCarla por muito tempo. Os zumbis de jaleco se tornaram monstros cadavez mais pavorosos, e ela acordava desejando nunca ter ido ao Anatolenaquele dia fatídico. Anatole, Anatole! Pobre Anatole! Pequeno entreos grandes e eternamente relegado ao esquecimento. Nunca sairá de tium doutor em literatura francesa, por exemplo. Mas, como já disse umavez alguém muito especial: “improvável não é impossível!” Quem sabealgum dia Carla não mais sonhe, e homens não mais morram!Dedicado à Eliane Costa.

Obrigado !!! Depoimentos como o abaixo que move o corre....

Olá, parceiro! Olá Buzo! É de exemplos como o seu que todas as pessoas da periferia precisam para voltarem a ter esperanças de que nem tudo está perdido.
Eu acho que o seu livro "Favela Toma Conta" é um marco de uma revolução muito grande que se origina do interior, da periferia do sistema para tomar de assalto a cena cultural. Parabéns!
Estou ansiosode ler os novos livros que você deixou no Enraizados, e os outros de Literatura Marginal lá da biblioteca deles.
José Carlos Alcantara
Nova Iguaçu-RJ
josecarlospeu@gmail.com

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Literatura é a Cura

Acabei de ler "Versus - Jovem Antologia Poética da Fundação Casa Unidade Paulista - Vila Maria" org. pelo Rui Mascarenhas com internos da Fundação citada e lançado artesanalmente pelo Projeto Dulcinéia Catadora (D.Catadora - 36 paginas).
Achei o livro muito bacana pela criação literária de jovens que a pouco nem sabiam o que era literatura, alguns versus são muito bons, outros nem tanto, mas todos são versus de progresso.
Fiquei sabendo que rola um debate de corrige ou não a obra antes de reproduzir + copias, acho que é válido, não digo as girias e tal, mas erros de portugués porque são muitos, publicaram exatamente como eles escreveram.
Bonito trabalho, meu exemplar é todo autografado pelo internos, ganhei numa atividade que fiz lá a uma semana.
Vou seguir lendo "Hip Hop a Lápis - Literatura do Oprimido, org. pelo TONI C e que traz 60 autores.
Na fila "Gilete na Mão do Macaco" de Walner Danziger (Independente - 64 paginas)
E você, que livro está lendo no momento ?

Ao poeta.

Por: Mary do Rap
Porto Alegre (RS)
marydorap@hotmail.com

Esta é a vida de um poeta.A rima,, a força, a fé , a forma pensamento e o pensamento tomando forma, a força criadora em movimento.
A expressão mais nobre ao falar de amor.
Ao falar de sonhos... Atravessando o grande céu de estrelas....Cauteloso antes e depois do tempo. Descrevendo tudo porque sua natureza é oportuna para isto. È ele o poeta, é ele fiel as letras. A deixar-se guiar no papel livremente forte,incansávelmente, Esta é a sua vida. Ser um modelo do deus das letras mais criativo.... Quando cita, quando recita um poema...Quando conta coisa que vem dele. Lá de dentro. Bem de dentro da alma. Fazendo a travessia do fogo, e indo até as profundezas dos mares. Derramando o vinho no inverno, e descendo aos infernos como Dante.
Apoiado na claridade da lua. Contando os grãos de areia do deserto. Há !!!!!!!! poeta teu intelecto está arraigado com a vida e com a luz da inteliGência, com a satisfação das letras que perden-se no papel. O poeta nunca abandonará a relação com as letras. Seus passos são descritos com clareza para aquele que conseguir corresponder-se com seus modo inquietante de dedicar-se ao seus mundo interior e ao ato solitário da escrita. Fazendo a comunhão entre o céu e a terra. o espírito de um poeta reina luminoso mesmo na escuridão e pode trazer a sensualidade no traço mais simples. Ele é o guerreiro, é o criador desde os primordios tempos dos homens.

M DE HOTEL

Por: O AUGUSTO
cirilolins@gmail.com



" O maior problema do mundo é o cinismo!"
"Falô então o 'grande filósofo'. De que merda você ta falando?"
"Escuta só... Cê liga o radio; ai vem um babaca e diz: 'blá-blá-blá é a melhor pizza da cidade'."
"E daí?"
"E dai? Cê acredita que a porra da pizza do comercial é a melhor da cidade? E as outras milhares
de pizzarias que dizem a mesma coisa: 'a nossa pizza é a melhor da cidade'? A verdade
é que a gente ta cagando e andando pr'essas coisas. Todo mundo sabe que é mentira, que a porra da pizza é igual a porra das outras pizzas das outras pizzarias. Cara; isso é cinismo!"
"Olha; o fato de um cara garantir que a pizza dele é a melhor da cidade, não é motivo pra você falar que o cinismo é o maior problema da porra do mundo."
"Vô te dar outro exemplo: os hotéis."
"Que tem eles?"
"Você já viu aquele bem vagabundão, meio muquifo, de beira de estrada? Você já percebeu nos nomes deles?"
"Claro que sim, mas não me lembro dos nomes."
"Não tô falando dos nomes, idiota, mas da maneira como eles escrevem."
"Neom?"
"Não. Eles não querem se comprometer, então colocam um "h" bem safado, que você não sabe se é um h ou um m.
E sabe por que? Porque vira um motel com cara de hotel. Ou a porra de um hotel com cara de motel. Cê ta me entendendo? Eles querem que a bosta do cliente decida. Eles tão sendo cínicos. Se você chega com a sua digníssima senhora dona piranha e fala pro cara: 'Eu quero um quarto pr'umas quatro horas.' Sabe o que ele responde?"
"Não."
"Que tudo bem, é um hotel, mas vai abrir uma exceção para o casal de pombinhos."
"Tá bom. Tá bom... Mas dizer que o cinismo é o maior problema do mundo..."
"Tá bom. Não é o maior, mas é o pior."
"E as guerras?"
"Quantas pessoas que você conheceu morreram na guerra?"
"Nenhuma, mas a gente vê na televisão..."
"E você acredita no que a televisão mostra? Aquele papo de... 'Oito horas. E atenção para mais uma merda de edição do Jornal Sacal. Hoje vamos falar sobre a porra da guerra que ta rolando na bosta de um país que vocês não conhecem, mas dane-se, porque isso não faz diferença mesmo'... Cara; eu só acredito no que eu vejo!"
"Mas é verdade. Tá cheio de neguinho morrendo nas guerras, cara."
" Não faz diferença. Eles iam morrer de qualquer jeito! Esta é a porra da regra da vida. Uns nascem, outros morrem..."
"É... Stevie Wonder escreve certo por linhas tortas."
"Deus. É Deus que escreve certo por linhas tortas. Você não é capaz de decorar nem a porra de um ditado popular?"
"Deus. Stevie Wonder. Para mim é tudo igual."
"Por que os dois são cegos?"
"Não. Por que os dois são negros."
"Cê ta certo. Acho que nunca esteve tão certo..."
...
"Cara; cê não ta sendo cínico comigo, tá?

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Homenagem ao Buzo

Por: Maria de Lourdes Reis Silva
lourdes.reisilva@ig.com.br
Itaim Paulista


Salve, Buzo pelos caminhos, vielas e becos do Itaim um suburbano sempre convicto de seus ideais, e favorecendo os ideias dos que te acompanha, e ou que querem fazer parte do Trem ou do Buzão, vencendo barreiras de cidades ou quem sabe Pais !!
Sucesso em sua trajetória.

O Dia Que Carla Camuratti Achou Um Sorriso - 4ª Parte.

PorJose Carlos de Alcantara
josecarlospeu@ig.com.br)

Nesta manhã Carla atravessou o pórtico de entrada da comunidade “A” eos sentinelas erguntaram-lhe o que eles haviam almoçado no diaanterior. Carla pensou um pouco e respondeu que um deles havia comidouma quentinha de ‘bife com fritas’ e o outro ‘frango com batatas’.Passou. Se acertou ou não a pergunta imbecil, não sabemos. Carla andava pelas ruas principais da favela com o mesmo medo quesentia ao atravessar o caminho que ladeava o lixão. “Na comunidadetambém há urubus.” – Pensou ela ao ver que os biltres do tráficotinham, quase todos, nariz adunco, pescoço esticado que projetava parafrente e não para o alto as suas cabeças e, o que ela considerava sero pior, andavam todos com um andar característico que consistia embraços semi-abertos afastados do corpo, passada ritmada que provocavaum movimento de sobe e desce da cabeça e, por fim, uma leve curvaturada coluna que os fazia parecer um pouco corcundas. Era, em suma, umbando de urubus. Sozinha com o seu medo, ela andava olhando para frente ou para baixo,nunca olhava para os lados, pois evitava olhar para o interior dascasas ou para os rostos das pessoas. As portas abertas das casassempre desvelavam o que deveriam ocultar. Eram mulheres descabeladasque passavam todo o dia cuidando das crianças e das demais tarefas dacasa vestidas o dia inteiro com suas roupas de dormir. Homens semcamisa e com bermudas sempre caindo, em resultado de usarem númerosmais altos que os seus. Crianças sempre sujas que pareciam multiplicarde número a cada vez que desviava o olhar. E, o que era o pior detudo, homens com bermuda caindo revelando seus pêlos pubianos juntocom mulheres em roupas de dormir leves e transparentes. Realmente eramelhor não olhar para dentro dos casebres. Sentia-se sozinha, também, quando precisava desviar das motos. Muitaseram conduzidas por pais de família que ganhavam a vida levando aspessoas de um lado para o outro, mas, muitas outras eram conduzidaspor olheiros, aviõezinhos e pelos garotos que eram chamados de vapor. Nas calçadas, havia as tias que vendiam balas e doces, os tios quevendiam legumes e verduras e os garotos que faziam das ruas um mercadode negociação de drogas. Carla nunca quis acostumar-se em ver uma filade vários fuzis encostados em fila nas paredes, como se fosse umavitrine. Para ela, se num determinado dia acordasse e estivesseacostumada, acomodada com esta situação, o seu mundo teria acabado. Desde que era uma garotinha bem pequena, quando sentia muito medo,cantava para espantar todos os males ao seu redor. Sempre quandopassava no meio da comunidade sentia uma verdadeira necessidade decantar. Queria cantar para esconder que estava com medo. Todos os diassentia medo ao fazer este mesmo trajeto em direção da escola ondefazia seu estágio. Então, Carla deixou que soasse em sua cabeça umadas canções infantis que sempre cantava para as crianças em sala deaula. À medida que a letra da música dançava em sua cabeça, ouvia asvozes das crianças cantando. E, ao ouvir o som das vozes cantando amusiquinha infantil, o seu medo se dissipava, pois pensava não estarmais sozinha. É natural que assim fosse, posto que todos os medos quesentimos perduram apenas enquanto pensamos única e exclusivamenteneles. Ela imaginava que qualquer pai ou mãe que precisava sair aindade madrugada para trabalhar e tinha que deixar seus filhos sozinhos,deveria passar o dia inteiro cantando para espantar o medo quesentissem pelo bem estar de suas proles. Se bem que todos estãosozinhos quando há uma invasão da polícia, do exército ou de bandidosde fora da comunidade. A sorte de Carla é que, ao cantar, não percebia o quanto caminhavamais rápido e, constantemente, chegava até o Anatole em menos tempo doque se caminhasse calada, em silêncio. Ao chegar à proximidade doAnatole, percebeu que algo não estava indo bem. Havia uma movimentaçãomuito grande de pessoas, dois carros de polícia e um rabecão dosbombeiros bem em frente da entrada principal do colégio. Foi aRitinha, faxineira do colégio, que recebeu Carla no portão. Haviamuito reboliço, muita agitação, e as coisas que Ritinhadizia saiam atropeladas e se amontoavam, não dando tempo para queCarla entendesse bem o que havia acontecido. Tudo o que ela pôdeassimilar foi que algo ruim havia acontecido. Em seu rosto, aserenidade que a música lhe deu foi sacudida pelas palavrasatropeladas da Rita. - Não vai haver aula hoje, filhinha. – Disse Rita com um sorrisoamistoso, tentando se antecipar à pergunta que Carla fariainevitavelmente.- O que aconteceu? – Perguntou Carla, deixando evidente que tudo o quelhe foi falado anteriormente havia sido em vão.- Eu já não lhe disse filha? Dona Rita envolveu os ombros da jovem com os seus braços e disse, emsussurros quase inaudíveis, que dois homens foram mortos dentro docolégio durante a noite anterior. Rita revelou, também, que estavamcomentando que os mortos deviam quantias irrisórias ao tráfico, e queos policiais que entraram na comunidade foram escoltados pelos abutresque estavam circulando a todo instante na frente do Anatole armadoscom armas que apenas especialistas sabiam o nome.A rua era estreita e terminava num beco sem saída para carros a poucomais de trinta metros após a entrada do Anatole France. Eram quatro oucinco carros, contando com os carros dos legistas, que fechavam a ruanão permitindo que outros carros tivessem acesso ao final dela. Nostelhados de alguns casebres ao redor do colégio, várias outras aves derapina apontavam seus fuzis e metralhadoras para os policiais queesperavam nos carros. Quatro policiais entraram no colégio junto comos bombeiros, enquanto dois ficaram do lado de fora, um em cada carro. Sentiam medo e encolhiam-se por estarem acuados dentro de veículosfrágeis, que não apresentavam nem sequer uma sombra de proteção contratodos aqueles armamentos à sua volta. Ademais, os policiais sabiam queestavam em uma emboscada. Simplesmente não podiam acreditar como seishomens experientes, acostumados a subir morros, foram cair nessafurada de entrar numa favela para acompanhar bombeiros e legistas. Naverdade, não entendiam nem mesmo por qual motivo se precisava delegista num crime como esse. Sentiam-se como o rato na fábula de Kafka que corria desesperado parauma ratoeira no fim de uma sala onde duas paredes se encontravam e, noponto privilegiado da armadilha, cantavam baixinho e tamborilavam comos dedos na porta dos carros. Não admitiam um para o outro o medo quesentiam, mas, era tanto que nem sequer ousavam ficar conversando em péfora dos carros. Eram dois policiais cercados por bandidos por todosos lados. Todo palco estava preparado para uma grande tragédia, eseria uma tragédia não terminar assim o dia. Era inevitável que o gatokafkiano lhes desse a sugestão de mudar de lado, para que elesfugissem da ratoeira, só para devorá-los. Havia pouco tempo que Carla estava estagiando no colégio AnatoleFrance. Os longos corredores do antigo prédio, recentemente reformado,mesmo que bem iluminados causavam-na sempre certa cisma. O medo iaembora na presença de outras pessoas que todos os dias eram quase umamultidão. Alunos, professores, merendeiras, faxineiros, inspetores,etc... Neste dia específico, não havia alunos nos corredores. As aulasforam suspensas e muitos funcionários aproveitaram para não trabalhare voltaram para suas casas. Os corredores estavam vazios, Carlacaminhava temerosa contando seus passos como quem se apega à esperançade encontrar um tesouro, rumo ao gabinete da diretora. Queriaperguntar se poderia ir embora, e se aquelas horas que deveria fazernaquele dia seriam descontadas. Caminhava vacilante quando da porta deuma das salas de aula saiu um homem vestido com um guarda-pó branco,onde se lia alguma coisa no bolso do lado esquerdo do peito, mas queela não conseguiu ler o que era. O homem vestia luvas de procedimentosmédico-cirúrgicos e trazia na mão esquerda um saco transparente quecontinha em seu interior um dedo indicador sujo de sangue, mas járessecado. O homem era da perícia e assustou-se, também, ao ver umajovem surgindo de forma inesperada em sua frente. Para aumentar osusto do homem, Carla gritou histérica como as mocinhas em filmes deterror quando estão prestes a morrer. O grito de Carla ecoou por todos os corredores vazios, e seu ecoentrou sem pedir licença poética em todas as salas de aula. No mesmoinstante que ela virou-se para o lado oposto ao qual caminhava,visando correr para se afastar do legista, deparou-se com váriosoutros homens. Eram policiais e outros legistas, além do inspetor docolégio e da diretora, mas, a sua mente, perturbada com o susto queacabara de levar, via apenas vários outros homens vestidos comguarda-pó portando vários outros sacos contendo indicadores. Desmaiou. Ao acordar, a primeira imagem vislumbrada foi o rosto rotundo dadiretora bem perto do seu. Dizia de forma doce seu nomeenquantopassava docemente as mãos em seus cabelos. Evocava calma,mesmo naquele instante tão delicado para uma demonstração de calma, aopegar suas mãos e tentar lhe passar força. Com todo este carinho, foilembrando pouco a pouco a causa do desmaio. Viu, novamente, como quenum flash, os homens, todos saindo ao mesmo tempo das salas do imensocorredor, cada um com um saquinho com um indicador em seu interior.Suas pupilas se dilataram e ela olhou rapidamente para todos os lados.Estava muito assustada. Mas não havia homens nem dedos indicadoresdecepados naquele ambiente. Tais imagenspavorosas davam lugar a armários-arquivos, paredes com quadros quereproduziam obras de Monet, alguns vasos com belos arranjos de flores,e o tom plácido em que foram pintadas as paredes. Agora, reinavanovamente a paz. Ficou a par de tudo o que acontecera, e envergonhou-se dos risos queacabou causando aos legistas e aos policiais. Tomou um copo de águacom açúcar e começou a compreender que chacinas são coisas tão comunsquanto o ar que se respira, estando em todas as partes da cidade. Mas,nada disso era motivo para desmaios, nada disso é um fato socialsignificativo no subúrbio.

COISAS DO FUTEBOL

Por: Manogerman.

Socos no ar.
Homens a gingar.
Multidão a torcer, esperando um vencer.
Coreografias dentro e fora das quatro linhas.
Futebol é alegria nos domingos.
Futebol é o que nos domina.
Na televisão ou nos gramados todos estão atentos.
Os homens correndo, pra lá e pra cá.
Esperando uns falhar.
Para poder colocar vantagem no placar.
Todos querendo se superar.
Futebol é de várzea é de praia,
É de areia e é de salão é a nossa paixão.
Futebol é bola na rede,
É bola na trave é bola de pé em pé é imagem de Pelé.
Tem bola explodindo no travessão emocionando os corações.
É um chute certeiro é gol de escanteio.
É chute que espirra é gol espírita.
É chute que vai e rebate é gol de craque.
É braço aberto
Comemorando com a multidão
É braço fechado
Segurando a honra embaixo do travessão
Futebol é fora das quatro linhas, é de bares e botequins.
Futebol é de vencidos e vencedores.
Futebol é o que anima, e porque não das meninas.
Futebol e arte se combinam.
Futebol é de pé em pé para homens e mulher.
Futebol é emoção esta dentro do coração.
São de bronze, prata e ouro.
É de sangue e suor, é de perfume é de tudo um pouco.
É de apito e elogios são de glorias e vaias.
Futebol agora também é de saias.
Todos em busca de um só ideal, com garra e coragem.
Tratando com carinho a mais famosa personagem
Que jamais fica de fora.
A BOLA.

Germano Gonçalves
( O urbanista concreto)
ggarrudas@hotmail.com

No cárcere

Por: Samuel da Costa
samueldeitajai@yahoo.com.br

–E ai Silverinha, tem negócio?
–Não!Não tem negócio!Reponde o policial sem deixar transparecer emoção alguma e sem encarar o presidiário, de frente, que o inquiria. E se assim o fizesse, poderia notar a cara de desprezo, do detento, ao ouvir a resposta negativa e sair resmungando. Sentado, e jogando caxeta despreocupadamente com os demais detentos, o soldado Silveira, bem sabia que tipo de negócio aquele animal, do ‘’Marcelinho Serra-fita’’, queria tratar com ele. Também sabia que após a sua recusa, o próximo a ser inquirido seria o Cabo Bilac. O cárcere tem suas leis próprias, aonde o certo é o errado, e o errado é o certo. E fato de certos carcereiros jogarem com alguns dos detentos, era um misto de diversão e prudência ao mesmo tempo. O jogo fazia passar o tempo mais rápido, e na prisão o tempo era um caso à parte. E em um lugar onde os carcereiros estavam de uma proporção de um para dez em relação aos detentos, a jogatina para ambos era uma questão de sobrevivência.
– Bati! Grita o soldado Silveira e levando uma das mãos no cassetete e esquecendo uma da regras do presídio, o silêncio,


Samuel Costa contista em Itajaí - SC

terça-feira, 25 de maio de 2010

COPA DO MUNDO

A copa do mundo é o evento,
Mas famoso e mais caro do planeta.
Enquanto milionários correm em campo,
Fazendo belas jogadas.
E nas arquibancadas. ..
Só sentam-se pessoas abastadas!
Enquanto isso neste mesmo país...
Existem pessoas levando uma vida desgraçada!
Não sei por que acontece essa grande diferença;
Regimes ditando regras e pregando as suas crenças.
Enquanto em nosso planeta
Existem homens, se dizendo inteligentes.
Matam gente todo dia, até mesmo inocente.
Quando não morrem de fome
Por viverem desnutridos
Por isso ficam doentes

Vivaldo Terres é poeta em Itajaí - SC

quarta-feira, 19 de maio de 2010

O Dia Que Carla Camuratti Achou Um Sorriso - 4ª Parte

Por: Jose Carlos de Alcantara
josecarlospeu@ig.com.br

Nesta manhã Carla atravessou o pórtico de entrada da comunidade “A” eos sentinelas erguntaram-lhe o que eles haviam almoçado no diaanterior. Carla pensou um pouco e respondeu que um deles havia comidouma quentinha de ‘bife com fritas’ e o outro ‘frango com batatas’.Passou. Se acertou ou não a pergunta imbecil, não sabemos. Carla andava pelas ruas principais da favela com o mesmo medo quesentia ao atravessar o caminho que ladeava o lixão. “Na comunidadetambém há urubus.” – Pensou ela ao ver que os biltres do tráficotinham, quase todos, nariz adunco, pescoço esticado que projetava parafrente e não para o alto as suas cabeças e, o que ela considerava sero pior, andavam todos com um andar característico que consistia embraços semi-abertos afastados do corpo, passada ritmada que provocavaum movimento de sobe e desce da cabeça e, por fim, uma leve curvaturada coluna que os fazia parecer um pouco corcundas. Era, em suma, umbando de urubus. Sozinha com o seu medo, ela andava olhando para frente ou para baixo,nunca olhava para os lados, pois evitava olhar para o interior dascasas ou para os rostos das pessoas. As portas abertas das casassempre desvelavam o que deveriam ocultar. Eram mulheres descabeladasque passavam todo o dia cuidando das crianças e das demais tarefas dacasa vestidas o dia inteiro com suas roupas de dormir. Homens semcamisa e com bermudas sempre caindo, em resultado de usarem númerosmais altos que os seus. Crianças sempre sujas que pareciam multiplicarde número a cada vez que desviava o olhar. E, o que era o pior detudo, homens com bermuda caindo revelando seus pêlos pubianos juntocom mulheres em roupas de dormir leves e transparentes. Realmente eramelhor não olhar para dentro dos casebres. Sentia-se sozinha, também, quando precisava desviar das motos. Muitaseram conduzidas por pais de família que ganhavam a vida levando aspessoas de um lado para o outro, mas, muitas outras eram conduzidaspor olheiros, aviõezinhos e pelos garotos que eram chamados de vapor. Nas calçadas, havia as tias que vendiam balas e doces, os tios quevendiam legumes e verduras e os garotos que faziam das ruas um mercadode negociação de drogas. Carla nunca quis acostumar-se em ver uma filade vários fuzis encostados em fila nas paredes, como se fosse umavitrine. Para ela, se num determinado dia acordasse e estivesseacostumada, acomodada com esta situação, o seu mundo teria acabado. Desde que era uma garotinha bem pequena, quando sentia muito medo,cantava para espantar todos os males ao seu redor. Sempre quandopassava no meio da comunidade sentia uma verdadeira necessidade decantar. Queria cantar para esconder que estava com medo. Todos os diassentia medo ao fazer este mesmo trajeto em direção da escola ondefazia seu estágio. Então, Carla deixou que soasse em sua cabeça umadas canções infantis que sempre cantava para as crianças em sala deaula. À medida que a letra da música dançava em sua cabeça, ouvia asvozes das crianças cantando. E, ao ouvir o som das vozes cantando amusiquinha infantil, o seu medo se dissipava, pois pensava não estarmais sozinha. É natural que assim fosse, posto que todos os medos quesentimos perduram apenas enquanto pensamos única e exclusivamenteneles. Ela imaginava que qualquer pai ou mãe que precisava sair aindade madrugada para trabalhar e tinha que deixar seus filhos sozinhos,deveria passar o dia inteiro cantando para espantar o medo quesentissem pelo bem estar de suas proles. Se bem que todos estãosozinhos quando há uma invasão da polícia, do exército ou de bandidosde fora da comunidade. A sorte de Carla é que, ao cantar, não percebia o quanto caminhavamais rápido e, constantemente, chegava até o Anatole em menos tempo doque se caminhasse calada, em silêncio. Ao chegar à proximidade doAnatole, percebeu que algo não estava indo bem. Havia uma movimentaçãomuito grande de pessoas, dois carros de polícia e um rabecão dosbombeiros bem em frente da entrada principal do colégio. Foi aRitinha, faxineira do colégio, que recebeu Carla no portão. Haviamuito reboliço, muita agitação, e as coisas que Ritinhadizia saiam atropeladas e se amontoavam, não dando tempo para queCarla entendesse bem o que havia acontecido. Tudo o que ela pôdeassimilar foi que algo ruim havia acontecido. Em seu rosto, aserenidade que a música lhe deu foi sacudida pelas palavrasatropeladas da Rita. - Não vai haver aula hoje, filhinha. – Disse Rita com um sorrisoamistoso, tentando se antecipar à pergunta que Carla fariainevitavelmente.- O que aconteceu? – Perguntou Carla, deixando evidente que tudo o quelhe foi falado anteriormente havia sido em vão.- Eu já não lhe disse filha? Dona Rita envolveu os ombros da jovem com os seus braços e disse, emsussurros quase inaudíveis, que dois homens foram mortos dentro docolégio durante a noite anterior. Rita revelou, também, que estavamcomentando que os mortos deviam quantias irrisórias ao tráfico, e queos policiais que entraram na comunidade foram escoltados pelos abutresque estavam circulando a todo instante na frente do Anatole armadoscom armas que apenas especialistas sabiam o nome.A rua era estreita e terminava num beco sem saída para carros a poucomais de trinta metros após a entrada do Anatole France. Eram quatro oucinco carros, contando com os carros dos legistas, que fechavam a ruanão permitindo que outros carros tivessem acesso ao final dela. Nostelhados de alguns casebres ao redor do colégio, várias outras aves derapina apontavam seus fuzis e metralhadoras para os policiais queesperavam nos carros. Quatro policiais entraram no colégio junto comos bombeiros, enquanto dois ficaram do lado de fora, um em cada carro. Sentiam medo e encolhiam-se por estarem acuados dentro de veículosfrágeis, que não apresentavam nem sequer uma sombra de proteção contratodos aqueles armamentos à sua volta. Ademais, os policiais sabiam queestavam em uma emboscada. Simplesmente não podiam acreditar como seishomens experientes, acostumados a subir morros, foram cair nessafurada de entrar numa favela para acompanhar bombeiros e legistas. Naverdade, não entendiam nem mesmo por qual motivo se precisava delegista num crime como esse. Sentiam-se como o rato na fábula de Kafka que corria desesperado parauma ratoeira no fim de uma sala onde duas paredes se encontravam e, noponto privilegiado da armadilha, cantavam baixinho e tamborilavam comos dedos na porta dos carros. Não admitiam um para o outro o medo quesentiam, mas, era tanto que nem sequer ousavam ficar conversando em péfora dos carros. Eram dois policiais cercados por bandidos por todosos lados. Todo palco estava preparado para uma grande tragédia, eseria uma tragédia não terminar assim o dia. Era inevitável que o gatokafkiano lhes desse a sugestão de mudar de lado, para que elesfugissem da ratoeira, só para devorá-los. Havia pouco tempo que Carla estava estagiando no colégio AnatoleFrance. Os longos corredores do antigo prédio, recentemente reformado,mesmo que bem iluminados causavam-na sempre certa cisma. O medo iaembora na presença de outras pessoas que todos os dias eram quase umamultidão. Alunos, professores, merendeiras, faxineiros, inspetores,etc... Neste dia específico, não havia alunos nos corredores. As aulasforam suspensas e muitos funcionários aproveitaram para não trabalhare voltaram para suas casas. Os corredores estavam vazios, Carlacaminhava temerosa contando seus passos como quem se apega à esperançade encontrar um tesouro, rumo ao gabinete da diretora. Queriaperguntar se poderia ir embora, e se aquelas horas que deveria fazernaquele dia seriam descontadas. Caminhava vacilante quando da porta deuma das salas de aula saiu um homem vestido com um guarda-pó branco,onde se lia alguma coisa no bolso do lado esquerdo do peito, mas queela não conseguiu ler o que era. O homem vestia luvas de procedimentosmédico-cirúrgicos e trazia na mão esquerda um saco transparente quecontinha em seu interior um dedo indicador sujo de sangue, mas járessecado. O homem era da perícia e assustou-se, também, ao ver umajovem surgindo de forma inesperada em sua frente. Para aumentar osusto do homem, Carla gritou histérica como as mocinhas em filmes deterror quando estão prestes a morrer. O grito de Carla ecoou por todos os corredores vazios, e seu ecoentrou sem pedir licença poética em todas as salas de aula. No mesmoinstante que ela virou-se para o lado oposto ao qual caminhava,visando correr para se afastar do legista, deparou-se com váriosoutros homens. Eram policiais e outros legistas, além do inspetor docolégio e da diretora, mas, a sua mente, perturbada com o susto queacabara de levar, via apenas vários outros homens vestidos comguarda-pó portando vários outros sacos contendo indicadores. Desmaiou. Ao acordar, a primeira imagem vislumbrada foi o rosto rotundo dadiretora bem perto do seu. Dizia de forma doce seu nomeenquantopassava docemente as mãos em seus cabelos. Evocava calma,mesmo naquele instante tão delicado para uma demonstração de calma, aopegar suas mãos e tentar lhe passar força. Com todo este carinho, foilembrando pouco a pouco a causa do desmaio. Viu, novamente, como quenum flash, os homens, todos saindo ao mesmo tempo das salas do imensocorredor, cada um com um saquinho com um indicador em seu interior.Suas pupilas se dilataram e ela olhou rapidamente para todos os lados.Estava muito assustada. Mas não havia homens nem dedos indicadoresdecepados naquele ambiente. Tais imagenspavorosas davam lugar a armários-arquivos, paredes com quadros quereproduziam obras de Monet, alguns vasos com belos arranjos de flores,e o tom plácido em que foram pintadas as paredes. Agora, reinavanovamente a paz. Ficou a par de tudo o que acontecera, e envergonhou-se dos risos queacabou causando aos legistas e aos policiais. Tomou um copo de águacom açúcar e começou a compreender que chacinas são coisas tão comunsquanto o ar que se respira, estando em todas as partes da cidade. Mas,nada disso era motivo para desmaios, nada disso é um fato socialsignificativo no subúrbio.

Muito da hora....peça: Boneco do Marcinho, monólogo com Emerson Alcalde

Texto: Alessandro Buzo
Fotos: Marilda Borges


Emerson Alcalde e seu assistênte Fernando (sonoplastia)

Inovando sempre,a Livraria Suburbano Convicto do Bixiga trouxe ontem (18/05) pela primeira vez, uma peça teatral, o monólogo "O Boneco do Marcinho" é encenada pelo ator Emerson Alcalde, assistência do Fernando.
Trata-se de um infanto juvenil, onde um boneco abandonado, tem saudade do seu dono, que cresceu e se foi no crime, o proprio boneco, foi dado ao Marcinho numa festa na comunidade, organizada por bandidos.
Aborda temas como desorganização familiar, violência doméstica de pai alcoolatra que bate.
Ontem foi encenada para um público adulto, mas quando exibida para crianças (escolas públicas e Parque Ecológico do Tietê), ela ganha uma versão mais ligth, queimar o filho com um cigarro, vira um cascudo.
Peça genial, eu indico e dou uma boa e uma má notícia, a boa é que vai ser encenada no "Suburbano no Centro" que realizamos na Ação Educativa, a má é que é só na edição de julho, mas agende-se........30/07.














Emerson Alcalde fez debate depois da peça


Fernando manda sua bem na sonoplastia


Alessandro Buzo apresenta a atividade em sua livraria no Bixiga
www.buzo.com.br

www.livrariasuburbanoconvicto.blogspot.com
www.marildafoto.blogspot.com

Fotos de Marilda Borges (se reproduzir, dar crédito)

terça-feira, 18 de maio de 2010

Qual lado.......

Por: Alessandro Buzo
alessandrobuzo@terra.com.br

Na vida nem tudo são flores........tem os espinhos.
Nem tudo é paz......tem a guerra.
Não somos pobres, só não temos as coisas.
Mas tem gente que é tão pobre que só tem dinheiro.
Prefiro ser assim, anti-sistema.
Rebelde, contestador.
Sei que lado eu estou.
Sei que os fracos não tem vez.
E que quando a caminhada fica dura...
Só os duros continuam caminhando.
Eu sigo, firme e forte na missão.
Virado no giraia.
Sem pagar simpatia.
Sigo na guerra, propagando a paz.

Alessandro Buzo
www.buzo.com.br

Twitter: @Alessandrobuzo

Uma refeição indigesta

Por: Samuel da Costa
samueldeitajai@yahoo.com.br

Em memória de João Carlos Pereira

– Me larga seu Silveira...me larga, não era ‘’pro’’ senhor, era ‘’pro’’ outro cara!
– Desgraçado eu te mato, eu te mato seu miserável!
Silveira tentava estrangular o detendo, responsável pela cozinha do presídio, com uma mão e dava uma chave de braço com a outra. Diante dos olhos atônitos dos demais detentos, que trabalhavam na cozinha do presídio, estavam todos paralisados de terror. Em sua maioria, presos de baixa periculosidade e com penas breves que ali trabalhavam. O soldado Silveira estava disposto a matar o detento e o mataria, caso os outros carcereiros, atraídos pela balburdia, não chegassem para presenciar a cena que se desenrolava na cozinha.
– O que foi soldado, o que ‘’ta’’ acontecendo aqui...solta o pobre do rapaz?
Minutos mais tarde já um pouco mais calmo, e com ‘’as mãos nervosas fora do pescoço’’ do presidiário, o soldado Silveira da sua versão do acorrido.
– Este desgraçado tentou me matar sargento Telles! Ele ‘’coloco’’ vidro na minha comida, senti o vidro quando ‘’tava’’ mastigando. Telles, o miserável do detento, ‘’tava’’ tentando me matar...

Samuel da Costa é contista em Itajaí - SC

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Por: Manogerman


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Germano Gonçalves – O urbanista concreto.
(escritor)
ggarrudas@hotmail.com

segunda-feira, 17 de maio de 2010

AMANHÃ (3a feira - 18/05) - Teatro na Livraria Suburbano Convicto do Bixiga



* Clique na imagem para ampliar......

Mas eles quebraram a cara, porque surgiu na periferia novos tempos, onde não vamos mais atrás da literatura deles, das porcarias de seus cinemas nos shoppings com enlatados americanos e nem em seus teatro com ingresso a R$ 100,00.
- Não sabendo que era impossível, foi lá e fez.
Hoje lançamos nossos livros, filmes e porque não, nosso TEATRO se faz presente.
Dia 18 de Maio tem "TEATRO" de graça na Livraria Suburbano Convito do Bixiga.....
Rua 13 de Maio, 70 - 2o and - Bixiga
www.livrariasuburbanoconvicto.blogspot.com
suburbanoconvicto@hotmail.com
(11) 2569-9151

Proximo sábado, 22 de Maio, gratís.............é o "Favela Toma Conta"....tomando conta pela 22a vez !!!!



Divisa de São Miguel com Itaim Paulista.........vamô chega !!!!

* Clique na imagem para ampliar

Vem ai a 5a edição do "Suburbano em Debate"

A tarde anunciaremos os debatedores, data e tema.
www.agendabuzo.blogspot.com
www.buzo10.blogspot.com


Debate 1 sobre RAP....Emicida, Max BO e Markão (DMN)


Debate 2 sobre literatura periférica com Sacolinha, Róbson Canto e Rodrigo Ciriaco


Debate 3 sobre a mídia do Hip Hop...com Eleilson Leite, Alexandre de Maio e Freitas


Debate 4 sobre sarau, Michel e Raquel (ELO), Vagnão (Brasa) e Lids (Ademar)

sábado, 15 de maio de 2010

HABITAÇÃO RUSTICA.

Por: Manogerman.

Não pedimos pra nascer, pedimos pra viver, seja a onde for, somos irmãos iguais a você.
Existe em qualquer periferia.
E nas proximidades da burguesia.
E um menino a perguntar.
Que culpa tenho eu?
Fiquei-me dentro de uma barriga.
De uma mulher que não era rica.
E que transou,
Com um homem,
Que juntava lixo.
Que tinha um espírito.
Fraco e impulsivo.
Os dois eram moços,
E o destino ocioso.
Quando me entendi por gente.
Todos me olhavam com maldade.
Só porque não escovava os dentes.
Meu cabelo não via pente
E assim seguia em frente.
As oportunidades.
Que a vida me trouxe.
Logo as perdia,
Pois todos já sabiam.
Nasci filho de mãe solteira,
Vivo num barraco de goteira.
Quem vê cara não vê coração.
Mas realmente.
Morava num barracão.
Os colegas não podiam me ajudar,
Naquela altura.
Era com eles que convivia.
Chamavam-me para qualquer aventura.
E ninguém me deu valor
Quando engraxava o sapato de um doutor
Tinha que entrar na moda,
Usar bombeta e não ser careta.
Curtir samba de roda,
Um rock de quebrada.
Acender uma bamba,
Ficar a pampa.
Se sair, fora da rodada... Nego!
Você dança.
E quem não entra fica na manha.
Que ninguém estranha.
E a vida é para homem de aço.
O trabalho é escasso.
Fui procurar ajuda,
Talvez do espaço.
Falei com o padre.
Tomei um nocaute.
Fui até o candomblé
Deram-me uns olés.
No centro espírita me disseram.
Pra levar a vida na esportiva.
Encontrei um pastor que por mim orou.
E no meu humilde aposento.
A comida acabou.
Meu DEUS, quem eu sou?
E a vida me obrigou.
Viajar e pegar, para me sustentar.
É a favela.
Nela a vida é uma fera.
Espera o que nunca vem.
E o que se tem.
Ferimentos e sofrimentos.
Existe gente de bem.
Quer embarcar no trem da alegria.
E viver com harmonia.
Mas para os olhos de outrem.
Ali não vive ninguém.

Germano Gonçalves – O urbanista concreto
(escritor)
ggarrudas@hotmail.com

O Dia Que Carla Camuratti Achou Um Sorriso - 2ª e 3aParte

Por: Jose Carlos de Alcantara
josecarlospeu@ig.com.br

As duas comunidades vizinhas são dominadas atualmente por uma mesmafacção criminosa, mas na época em que esta história aconteceu, duasfacções rivais diferentes dominavam uma comunidade cada. Carla Camuratti, a atriz e cineasta, estava em evidência quando nossaCarla nasceu. Não era tão bela quanto a Carla cineasta, mas tinha seusencantos. Tinha, também, dificuldade de enxergar à distância por causada miopia e do astigmatismo, que lhe obrigavam a usar óculosconstantemente. Seus óculos tinham uma bela armação, o que fazia seuencanto não ser tão afetado, muito pelo contrário, tinha um arinteligente e sedutor ao limpar as lentes dos óculos e, vez em quando,ao meditar, mordia uma das extremidades da armação em poses queficariam perfeitas em anúncios de lentes tão comuns nas paredes das óticas. Por ter aparência de professora desde pequena, decidiu que faria o2°grau numa escola que oferecesse o curso de formação de professores.Achava linda a imagem de uma multidão de moças vestidas com blusabranca e saias de pregas azul-escuro, abraçadas com seus cadernos, queinvadiam o centro de Nova Iguaçu vindas do colégio João Luis doNascimento. “– Mãe, quero ser normalista quando crescer!” – DiziaCarla com uma empolgação que resistiu a passagem de tempo, alcançandoa adolescência. Aqui a vemos já na época dos estágios.Conseguiu uma vaga para estagiar na escola Anatole France. Esta escolafica no meio de uma das comunidades, entre a comunidade que podemoschamar de comunidade “A”, e Carla morava no centro da outracomunidade, que chamaremos de comunidade “B”. No meio do caminho,entre uma comunidade e outra, não havia apenas uma pedra, mas umlixão, os urubus, as torres de energia, os campos de futebol, osmortos, as balas traçantes e o medo que Carla sentia ao ter que passarsozinha pelo caminho das torres. Caminhava com receio, olhando para os lados e para trás de si. Nestamanhã, uma mulher levava os filhos para escola, duas crianças que porjá terem nascido no meio da violência, não tinham lembrança alguma daépoca em que a segurança não era uma preocupação tão grande. Ascrianças corriam brincando de bolinha de gude enquanto andavam, e seafastavam um pouco da mãe, que lhes gritava os nomes para queesperassem por ela. A mulher e os dois garotos estavam a cerca de 100metros de distância de Carla, á sua frente. Por mais que andasserápido, não conseguiria alcançá-los. Um pouco menos distante caminhavauma senhora idosa. Andava lentamente, o que fez com que Carla seperguntasse por qual motivo ela não optou por ir de ônibus. Mas, Carlasabia que ninguém iria escolher pegar um ônibus apenas para não passarpelo caminho das torres. Passar pelo caminho das torres é muito maisrápido pois corta caminho. No caso de Carla, de sua casa até o pontoem que deveria descer para chegar ao Anatole, são apenas duas paradas.Quase não dá tempo de passar pela roleta e descer sem pedir para omotorista esperar um pouco. O ônibus contorna um morro numa curva bastante acentuada para adireita, anda por uns 150 ou no máximo 200 quilômetros, faz nova curvapara a esquerda, acelera um pouco e, depois de atingir uns 75 ou 80quilômetros por hora, freia com força para não passar do ponto. Talveznão mais que cinco minutos e todo um microcosmos que é o lixão docaminho das torres some completamente das vistas dos passantes. Masele ainda está lá, mesmo que não o vejam.

O Dia Que Carla Camuratti Achou Um Sorriso - 3ª Parte

Vencida a barreira do caminho das torres, Carla sentia medo, também,de passar pelos homens armados na entrada da comunidade “A”. Paraentrar lá, qualquer pessoa, tinha de responder a perguntas que osbandidos faziam. O que era estranho é que o medo que os bandidossentiam de serem surpreendidos por outros bandidos da comunidadevizinha, levava-os a bolarem perguntas sobre toda a sorte de coisas ede todo grau de dificuldade. Parecia que se uma pessoa fosse capaz deresponder às suas perguntas, não havia a possibilidade de que talpessoa ser um bandido. Certa vez, um rapaz muito bonito, bem vestido e estiloso na aparência,cruzou o pórtico que havia na entrada da favela e foi parado por doissentinelas armados, que lhes perguntaram, note só, os nomes de todosos jogadores da seleção brasileira de futebol na copa do mundo de 1970em ordem alfabética. Os biltres ficaram boquiabertos quando o jovem,com toda a elegância do mundo, começou a alistar um a um os nomes dosjogadores. Várias pessoas que esperavam sua vez de serem alvejadas comperguntas descabidas que cerceavam seus direitos aproveitaram paraentrarem na comunidade enquanto os bandidos ficaram distraídos com ogrande feito memorialístico do jovem rapaz. Lembro-me, perfeitamente, de um entregador de contas de luz que todavez que entrava na comunidade era perguntado sobre o nome e osobre-nome de todos os moradores que receberiam suas contas. Todos osdias o homem respondia bem no início, mas por volta do trigésimo ou doquadragésimo nome, sua memória começava a falhar. Era uma realizaçãohercúlea conseguir gravar os nomes de 825 clientes da concessionária.Os bicheiros começaram a organizar apostas, primeiro se o homemalcançava 50 nomes, depois 70, até que quando o entregador alcançou100 nomes, um apostador recebeu uma bela quantia em dinheiro. Houve um dia, porém, que para surpresa de todos, o homem respondeu deforma exata todos os nomes dos clientes que moravam naquelalocalidade. Muitas pessoas suspeitam até hoje de alguma fraude, oualgum ato de astúcia utilizado pelo homem, mas o fato é que eleconseguiu falar os nomes de 825 pessoas. Mesmo pasmados com o grandefeito do entregador, os malandros continuaram mostrando quem mandavano pedaço. Disseram ter perguntado quantos clientes receberiam suascontas e, segundo eles, a resposta exata era ‘quantos elespermitissem’. O que era verdade. O pobre homem poderia continuartentando, mas imaginou que seria inútil ir contra a burocracia dotráfico. Voltou as costas à entrada da favela e caminhou desolado atéo ponto de ônibus mais próximo. Ao avistar o seu ônibus, fez sinal comas mãos para que parasse, entrou nele e nunca mais foi visto porninguém. Provavelmente perdeu o emprego. O fato é que outrosentregadores de contas de luz surgiram, mas nenhum deles persistiu pormais de uma semana na tentativa de decorar nomes. Era por isso queninguém na comunidade pagava luz. Para Carla as perguntas nunca eram tão difíceis. Já lhe perguntarammuitas coisas antes. Perguntas sem nenhum cabimento, que a faziamrefletir por qual motivo as pessoas se sujeitam a esta forma decerceamento de sua liberdade. Certa vez perguntaram-lhe qual era adiferença dos termos ‘complexo’ e ‘complicado’ segundo o pensamento deMorin. Mais estapafúrdia foi a pergunta “qual o nome do conto deBorges em que um personagem diz ‘o fator estético não pode prescindirde um certo elemento de assombro’?” Desde quando selvagens quetorturam e matam com requinte de crueldade conhecem a literatura de Borges?

Por: Jose Carlos de Alcantara
josecarlospeu@ig.com.br

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Deixa o Sol entrar...

Por: Samuel da Costa
samueldeitajai@yahoo.com.br

Para Rute Margarida Rita

Abra as janelas!
E puxe as cortinas.
Deixa o Sol entrar,
O Astro rei...
Chega de viver na escuridão...
Pois quero viver...
...ao teu lado!
Da me a tua mão!
Vamos abrir as janelas...
Deixar a vida entrar!
Vamos viver a vida...
Deixa a vida entrar
Vamos viver!

Samuel Costa é poeta em Itajaí - SC

Adeus carne

Por: Samuel da Costa
samueldeitajai@yahoo.com.br

I
O corpo esguio e o andar rápido em meio aos corredores e, ela não parecia se importar com o fato dos detentos estarem perfilados e, de cara para a parede, enquanto ela passava. O fato já não intrigara mais Maria da Saudade, com seus olhos verdes sedutores e seus quarenta anos de idade, e já se foram um pouco mais de um ano que fizera sua primeira visita ao seu filho no cárcere. Ficou sabendo logo como as coisas ali se precediam. E ficou feliz e amargurada ao mesmo tempo. Hoje esta especialmente feliz, pois estava enfim chegando o dia da soltura de seu filho e, amargurada de ainda ao vê-lo ali preso. E hoje, ao visitá-lo, foi o encontrar amuado em seu cubículo.
– Filho, o que foi?
– Hora o que foi? Quero sair deste inferno mãe!É ‘’que’’ quero acertar umas continhas fora daqui...
– Tu vais sair logo meu filho! As palavras saíram em tom acalentador da boca de Maria. Ver o filho em tal estado, não era uma coisa que ela estava preparada. Era sempre assim, todas as sextas-feiras, um recomeçar, uma agonia sem fim, uma vez por semana e todo o mês. A princípio, ela pensava que o filho morreria em dois tempos naquele lugar infernal, mas logo soube que o ‘’Comando Criminoso’’ havia suspendido, toda e qualquer, acerto de contas ali dentro. As ‘’broncas’’ deveriam ser resolvidas no lado de fora do presídio. Isto devido à superpopulação de presídio.
– O advogado, disse que tu vai sair no mês ‘’qui’’ vem filho.
O que Maria da Saudade não sabia, era que o ‘’Comando Criminoso’’ quem de fato mandava no presídio, fizera uma acareação, entre seu filho e o Josué de Guimarães Travasso, o ‘’Nego preto’’, que fora preso logo após o filho da Maria ‘’cair na rua’’. ‘’O Patrão’’ queira saber da ‘’bronca’’ entre os dois e, deixar bem claro que as diferenças entre os dois seriam acertados fora do presídio. ‘’O Patrão’’ ficou contente, por saber que quem dera o tiro que matou um ‘’casqueiro’’ qualquer fora o Nego preto e o filho de Maria da Saudade ficou quieto durante todo o inquérito e o processo que o arrolava como homicida. E agora que o Nego Preto estava na rua, uma coisa não saia da cabeça do filho de Maria da Saudade.
II
Ao subir na ‘’ziquinha’’, Josué de Guimarães Travasso, o Nego Preto só pensava no lucro que teria à noite. Repassar sua cota de drogas e ficar de boa com o traficante ‘’Trinta e oito’’, mas repente em sua mente um pressentimento lhe invade a mente. Um mau presságio, e a figura do ‘’prego’’ que estava ‘’pagando’’ cadeia no seu lugar, vêm em sua mente. Preto não sabia se ele já estava para ser solto ou não. Vender a arma para ele foi uma tacada de mestre, justo a arma que usara para matar aquele ‘’laranja’’, que lhe devia uma boa quantidade de craque.
– Ligo ‘’pros’’ irmãos mais tarde, pra sabe do lance! –Diz Josué de si para si mesmo. E ao chegar bem em frente da escola aonde estudara aquele adágio lhe invade com toda a força. E ele não escuta o tiro, disparado em sua direção, que o derruba da bicicleta, mas senti o ombro esquerdo em brasas. Atônito e atordoado ‘’Nego preto’’ em sua confusão mental se vira e, vê a figura de uma mulher que se aproxima. Seu andar era firme e esguio, seus olhos verdes sem emoção alguma a lhe fitar bem de perto. Josué de Guimarães Travasso se lembra da fisionomia da mulher, só não sabe de onde. O Nego preto que sentia o ombro em brasas vê a arma apontada para sua têmpora e, um brilho laranja esbranquiçado e uma fumaça. Sua cabeça que é jogada para trás, e ele que sentia o ombro em brasas já não sentia mais nada...

Samuel Costa é contista em Itajai - SC

quinta-feira, 13 de maio de 2010

DU LIXO



Dulixo
por Crônica Mendes

O mundo no lixo
E a arte esquecida, por fim
se acaba.
O desejo segue adiante, mas ninguém olha.
Tampouco ajuda.
A transformação jogada fora,
a emoção por um sentimento de piedade,
escorre diluída no chorume.
Ninguém demais viu, só quem foi parte disso.
Parte de uma família,
reciclada.
Quem foi,
não,
Quem é,
sim.
Quem constrói o futuro, destrói o presente
e não recicla a embalagem.
O laço deu nó cego.
Apertou,
Apertou demais.
Só o coração não é suficiente.
- Não dá mais.
As pernas, braços, mãos, membros...
Soldados sob o sol,
somos DULIXO
num oceano de gente.
Driblando como um Tubarão
e seguimos em frente.

Re-malta

Por: Patricia Raphael

Veio a loucura...
Descompasso antigo!
Aquela mania
Já restabelecida
Vem me prender
Que doce aventura
Amar-te
Já não desconheço...
...tamanha felicidade!
Pois não há distância alguma
Entre nós!
Sim
Vim propor reconciliação
Ainda hoje!
Te prometo...
Agora?
Consigo te convencer...
Mas prefiro as escondidas.
Com cuidado
Longe do mundo
Sem re-malta
Assim viveremos juntos...
...para sempre.

Patricia Raphael é poetisa em Itajai - SC

O Dia Que Carla Camuratti Achou Um Sorriso - 1° Parte.

Por: Jose Carlos de Alcantara
josecarlospeu@ig.com.br

Vários urubus reviravam o lixo em busca de comida. Às vezes, quandouma pessoa passava muito perto, olhavam de forma ameaçadora. Se alguémse aproximasse um pouco mais, davam pequenos vôos e pousavam algunsmetros mais distante, o tanto quanto pudessem considerar uma distânciasegura. Mantinham suas asas abertas para parecerem maiores e maisameaçadores do que eram realmente. O movimento de ficarem paradosobservando as pessoas com as asas abertas servia, também, parapermanecerem preparados para novos vôos que os afastariam mais algunsmetros de qualquer um que se aproximasse novamente. Carla tinha medo de passar pelo caminho das torres, como era chamadauma faixa regular de terra que tinha grandes torres de energia e seuscabos como firmamento e, em baixo das torres, dois campos de futebol eum lixão onde habitavam os urubus. O já referido caminho das torresligava uma comunidade carente que fica de um lado das torres a outracomunidade carente que fica do outro lado. Alguns chamam este terrenode Faixa de Gaza. Isto é um problema, posto que outras comunidadesreivindicam o direito de usarem com exclusividade o nome Faixa deGaza. Argumentam que as suas Faixas de Gaza são mais perigosas, maisfamosas e, por estes motivos, mais merecedoras do título. Disputa inútil na opinião de Carla, e na de qualquer pessoa sensata,já que tal título não é em nada lisonjeiro. Refere-se ao fato de que ànoite, era comum ver balas traçantes de fuzis cruzarem os céus à cimadas torres. Em resultado disso, muitas eram as manhãs que desvelavamcom os primeiros raios de sol a imagem de corpos desovados no lixão.Os urubus, os corpos, o mau cheiro do lixo, a solidão, estes são osprincipais motivos de Carla ter medo de passar pelo caminho dastorres. O medo diminuía um pouco quando Carla passava por láacompanhada por outras pessoas. Parecia que quanto mais pessoas aacompanhassem, maior a probabilidade de evitar uma hecatombe. Àsvezes, aproveitava a carona do seu tio, que ia de bicicleta para aestação de trens, e atravessava com ele o caminho das torres. Costumava sentar no bagageiro da bicicleta de lado e segurar nabarriga de seu tio. Nessas oportunidades gostava de fechar os olhospara não ver o lixão. Parecia flutuar por sobre toda aquela miséria.Nesses breves momentos sentia-se a pessoa mais importante do mundo,como se estivesse alcançado o paraíso. Um dia estava assim voando baixo, desligada do mundo, quando seu tioque estava correndo numa boa velocidade com a bicicleta, desviou deforma brusca de algo que surgiu inesperadamente no seu caminho esoltou uma exclamação de surpresa em forma de palavra chula. Balançoude um lado para o outro o guidão da bicicleta, quase levando Carla aochão. Por instinto, ela segurou ainda mais forte e cerrou ainda maisos olhos para não ver o tombo que por pouco não levaram. Não era umapedra que estava no meio do caminho e sim o corpo de um homem mortoque foi abandonado ali, quase escondido pelo mato ralo o suficientepara esconder um defunto. Quase que atropelaram o morto. Como já dito,estes são os motivos de Carla ter medo de passar pelo caminho dastorres.

terça-feira, 11 de maio de 2010

NOVO COLUNISTA !!!! Diretamente da Baixada Fluminense...

Os Operários
Por: Jose Carlos de Alcantara
josecarlospeu@ig.com.br

Os operários constroem um prédio
Com cimento e tijolo.
Muitos não sabem escrever
Cimento e tijolo.
Mas vão utilizando
Cimento e tijolo.
Vão falando
Cimento e tijolo.
E sabem que são operários
Mesmo sem saber interpretar
A representação gráfica
O-PE-RÁ-RI-OS.
Os operários são mais que proletários.
São homens.
O fato de sentirem-se
Inferiores
Só existe pois outros homens, Homens, HO-MENS
Se acham melhores
Do que o saco
De merda que são.

HABITAÇÃO RUSTICA.

Por: Manogerman.


Não pedimos pra nascer, pedimos pra viver, seja a onde for, somos irmãos iguais a você.
Existe em qualquer periferia.
E nas proximidades da burguesia.
E um menino a perguntar.
Que culpa tenho eu?
Fiquei-me dentro de uma barriga.
De uma mulher que não era rica.
E que transou,
Com um homem,
Que juntava lixo.
Que tinha um espírito.
Fraco e impulsivo.
Os dois eram moços,
E o destino ocioso.
Quando me entendi por gente.
Todos me olhavam com maldade.
Só porque não escovava os dentes.
Meu cabelo não via pente
E assim seguia em frente.
As oportunidades.
Que a vida me trouxe.
Logo as perdia,
Pois todos já sabiam.
Nasci filho de mãe solteira,
Vivo num barraco de goteira.
Quem vê cara não vê coração.
Mas realmente.
Morava num barracão.
Os colegas não podiam me ajudar,
Naquela altura.
Era com eles que convivia.
Chamavam-me para qualquer aventura.
E ninguém me deu valor
Quando engraxava o sapato de um doutor
Tinha que entrar na moda,
Usar bombeta e não ser careta.
Curtir samba de roda,
Um rock de quebrada.
Acender uma bamba,
Ficar a pampa.
Se sair, fora da rodada... Nego!
Você dança.
E quem não entra fica na manha.
Que ninguém estranha.
E a vida é para homem de aço.
O trabalho é escasso.
Fui procurar ajuda,
Talvez do espaço.
Falei com o padre.
Tomei um nocaute.
Fui até o candomblé
Deram-me uns olés.
No centro espírita me disseram.
Pra levar a vida na esportiva.
Encontrei um pastor que por mim orou.
E no meu humilde aposento.
A comida acabou.
Meu DEUS, quem eu sou?
E a vida me obrigou.
Viajar e pegar, para me sustentar.
É a favela.
Nela a vida é uma fera.
Espera o que nunca vem.
E o que se tem.
Ferimentos e sofrimentos.
Existe gente de bem.
Quer embarcar no trem da alegria.
E viver com harmonia.
Mas para os olhos de outrem.
Ali não vive ninguém.

Germano Gonçalves – O urbanista concreto
(escritor)
ggarrudas@hotmail.com

domingo, 9 de maio de 2010

Tumbeiro

Por: Samuel da Costa
samueldeitajai@yahoo.com.br

Amarga e sonha!
Transporta tumbeiro
A negra dor
A negra carne
A carne negra
Lacera e lacera...
A negra vida
Transporta
Enrique-se
O mundo branco!
O branco luxo
A negra dor
Transporta
E lacera a negra carne
Transborda
De riqueza
O mundo branco!
Mundo reluzente
Racional
Transporta o negro
Ouro
A negra sina
O negro pranto

Samuel Costa é poeta em Itajaí SC

Literatura é a Cura

Acabei de ler "Eles Eram Muitos Cavalos" de Luiz Ruffato (Record - paginas).
Achei o livro complicado, não foca em uma história.
Esperava outra coisa, depois de ter ouvido o autor falar sobre ele em debate no Fórum Social Mundial 2010 em Canoas-RS, não que o livro seja ruim.

Agora vou ler "Hip Hop a Lápis - Literatura do Oprimido, org. pelo TONI C e que traz 60 autores.
E você, que livro está lendo no momento ?

Dom Quixote

de Crônica Mendes

"Me disseram que é proibido sonhar e de presente me deram um lixo de realidade. Mas não vou cruzar os braços, vou reciclar tudo."
por Crônica Mendes

à Dulixo

Minha vida

Por: Samuel da Costa
samueldeitajai@yahoo.com.br
Para Andressa Salvadio Galvani

Acorda
Desperta
Sorri
Levanta
Luta
Chora
Perdi
Ganha
Cai
Sonha
Voa
Vence

Samuel Costa é poeta em Itajai-SC

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O velho Caetano

POr: Samuel da Costa
samueldeitajai@yahoo.com.br


̶ Alexandre meu filho, tu sabes qual a melhor forma de se controlar alguém? Saturnino Caetano inquire o filho de forma vaga.
̶ Do que ‘’tas’’ falando velho?
̶ É só deixá-la fazer o que bem entender. E quando sair pela aquela porta afora, meu filho, lembra-te do que teu velho está te dizendo ̶. O velho metalúrgico e sindicalista aposentado, bem sabia das atividades ilícitas do filho mais novo. E de repente pensa no filho mais velho, na luta para ver Luis Carlos formado em história.
̶ Sei que tu ‘’é’’ mais velho que eu pai. Mas o que sabes da vida de hoje? A pergunta, do filho não atormentar o velho operário. Saturnino não podia olhar através dos óculos escuros que o filho usava, mas bem sabia do ódio que faiscavam naqueles olhos. Já sentira a mesma coisa antes, quando estivera no cárcere, no tempo da repressão, no período que alguns chamam de ‘’anos de chumbo’’.
̶ Sei da minha vida, velho, e não quero que se intrometa em coisas que não sabe! Diz Alexandre com todo ódio do mundo para o pai.
̶ Sei mais que pensas guri, bem mais! Todo o horror de anos atrás, quando fora dependurado pelos braços e torturado lhe vem à cabeça, com toda a força.
̶ Do que ‘’tas’’ falando, velho ‘’Caetano’’?
̶De nada meu filho, só quero dizer que te amo, e sempre vou te amar filho! Alexandre na porta e pronto para sair, olha para trás e tira o óculo e encara o pai nos olhos, e toda a fúria assassina que Saturnino Caetano presenciara anos atrás, retorna com toda força.
̶ Não sou mais homem ou menos homem que o Calinho, com aquele diploma, pai!
̶ Não é isso que ‘’to’’ falando Xande...
̶ Não me espera para o jantar! Diz Alexandre saindo pela porta afora, sendo tragado pela escuridão da noite. E sequer se volta para o pai ao proferir as últimas palavras. Alexandre leva na mão a cintura com um ato desesperado. Saia com toda a certeza de nunca mais voltar para casa...

Samuel da Costa é contista em Itajaí - SC

Só pra descontrair um pouco........

Nova Iorque, 11 de setembro de 2001, às 7 da manhã...
O sujeito despede-se da esposa e vai para o seu escritório no 85º andar de uma das torres do World Trade Center.
No caminho resolve mudar os planos e segue direto para a casa de sua amante...
Chegando lá, desliga o seu celular, despe-se, e vai com ela para a cama, sedento por sexo..
Às 11h, já satisfeito e bem disposto, resolve ir para o escritório. Levanta-se, veste-se, liga o seu celular...
Priiiii Priiiii Priiii.... Que toca na mesma hora, era sua mulher gritando em pânico e aos prantos:
- Graças a Deus!!! Querido... Onde você está ???
- Estou aqui no escritório querida... Tomando um cafezinho... Aconteceu alguma coisa ???

Suburbano em Debate foi genial e de quebra aconteceu o primeiro "Sarau Suburbano Convicto"......um noite inesquecível.

Suburbano em Debate - 4a Edição
Tema: SARAU - O Poder da Palavra
Debatedores: Michel (ELO), Vagnão (Brasa), Lids (Ademar)


Buzo (mediador) e mesa


Michel da Silva do ELO DA CORRENTE, abriu o debate e teve que ir pra USP, deixou representante a altura


Raquel Almeida do ELO DA CORRENTE substituiu o Michel da Silva que teve que ir pra faculdade que tinha prova (a elite treme)


Vagnão do Sarau da Brasa


Lids do Sarau da Ademar

Texto I: Alessandro Buzo
Fotos: Marilda Borges

São Paulo, Bixiga, 19h de uma terça-feira, dia 04 de Maio de 2010.
Na Livraria Suburbano Convicto, que fica na Rua 13 de Maio, 70 - 2o and, aconteceu a 4a edição do "Suburbano em Debate"e o tema era ...Sarau - O Poder da Palavra e a mesa para debater o tema era formada por....Michel da Silva (Sarau Elo da Corrente, Pirituba na area), Lids (Sarau da Ademar, na Cidade Ademar) e o Vagnão (Sarau da Brasa, Vila Brasilândia), de mediador eu que vos falo, Alessandro Buzo.
O Michel da Silva abriu o debate com sua fala, muito bom ver a segurança que o Michel da Silva ta passando nas palavras, falou do seu Sarau e na fala inicial de todos predominou o como surgiu, onde e como.
Michel tinha prova na USP (mais um dos nossos correndo atrás), foi substituído pela Raquel Almeida, que faz com ele o Sarau.
Segundo a falar, Vagnão da Brasa mostrou o quanto tem idéia pra trocar, falou, falou, falou...nos disse como surgiu o Sarau da Brasa e como se reuniu aquela galera.
Pra fechar a sessão de primeira fala, Lids nos disse como que nasceu o Sarau da Ademar. A Lids fala muito bem, passa muita verdade.
Sempre depois da abertura dos convidados, faço uma pergunta a cada debatedor antes de passar palavra pro público que também participa. Como havia feito a pergunta pro Michel antes dele sair, comecei pelo Vagnão e antes de perguntar pra Lids, não resisti e perguntei pra Raquel desde quanto tempo de vida sua filha YAKINI (que brincava em seu colo, no chão, mexia com o Vagnão) frequentava sarau, ela explicou que tirando os 9 mesês de gravides que foi direto, com um mês de vida, não foi no Elo da Corrente (que ela faz com o marido Michel da Silva), mais sim no Sarau da Brasa.
Fechei minha rodada de pergunta a cada debatedor e passei a palavra do público, foi bem bacana as participações, intervensões. Muita gente bacana prestigiou essa noite, não vou citar nomes.....foram "TODOS".
As perguntas foram muitas, algumas sobre a questão de todos os 3 (Saraus presentes) estarem acontecendo num bar. Só o Michel do ELO disse que não era o lugar ideal (na sua fala) e a Raquel na resposta dessa pergunta reforçou a posição deles, muitos não vão no Sarau porque é num bar (pequeno) e a questão alcolismo, que ela disse ser prefente nos bares proximos e até no Santista (local do sarau desde o seu início a 3 anos).
Outro assunto abordado foi se a nossa poesia é de protesto (social) ou artistica...Raquel frisou que: - Ninguém pode contestar o lado artísticos de poetas como Sergio Vaz e outros.
Só o Vagnão bateu pé que é mais pelo protesto mesmo, mas também disse que é arte.
O debate vai longe, o tema: Sarau - O Poder da Palavra vai voltar com certeza a pauta, como representantes de outros 3 saraus da cidade (ou Grande SP). Igual "A Mídia do Hip Hop", ta pedindo BIS o assunto.
Mas eles não imaginavam o que estaria por vir.
Vamos pra segunda parte do evento..........logo depois das fotos de Marilda Borges


Um país se faz de homens (mulheres) e livros


Mesa depois que entrou a Raquel


Prestando atenção ao debate


Evandro Borges


Muitos amigos


Yakini, medalha da sorte do Sarau


predominou as mulheres ontem

Aconteceu a primeira vez do "Sarau Suburbano Convicto", só "EU" sabia.
E não podia ter sido melhor.....
Texto II: Alessandro Buzo
Fotos: Marilda Borges

Aplausos pros debatedores que encerravam a "4a edição do Suburbano em Debate".
Peguei a palavra e anunciei algumas coisas, até antecipei outras que sempre faço isso, não espero ficar 100% certo, com 80% eu já anuncio.
Primeiro lugar surpreendi a todos (até minha esposa Marilda, que sabia que iria acontecer mais não que era nessa noite), mas antes de anunciar eu expliquei o porque. Fui convidado pela Feira do Livro de Canoas, ir lá em Junho, mas eles queriam que eu convocasse alguns amigos para fazermos um sarau.
Indiquei 6 poetas, mas parece que só vai uma parte e juntar com pessoas de lá do Sul, mas depois falo (quando estiver mais proximo e nomes confirmados).
Na sequencia a pessoa ligou e disse: - Guri, podemos chamar de Sarau Suburbano Convicto ???
Disse que sim mais depois fiquei pensando, apesar de o "Encontro com o Autor" muitas vezes ter acabado em Sarau, o Sarau Suburbano Convicto não existia de fato, então...agora existe e ontem (04 de Maio de 2010) foi a primeira edição com 23 participantes que estavam ali até então(algumas pessoas foram embora durante o debate).
Fica aqui oficialmente documentado (em ATA) que os presentes no primeira Sarau Suburbano Convicto foram.....Alessandro Buzo, Marilda Borges, Evandro Borges, YAKINI (nossa medalha da sorte), Michel da Silva (saia antes mais estava representado), Raquel Almeida, Vagnão da Brasa, Lids da Ademar, Leandro de Moraes, Juliana Queiroz, Marciano Ventura, Andrio Ferreira, Thais (Quilombaque), Leciete (Circulo Palmarino), Maria Angelica, Edimar de Jesus, Juliana Romão (Juma da Ademar), Adriana Solinas (Drix da Ademar), Bruna Barbosa de Freitas, Shirley de Souza Costa, Diego de Freitas, Mônica Cardim, Érica Peçanha, mais uma bebê (filha do Andrio), que não peguei o nome.
Muitas risadas e surpresa: - Não sabia que ia participar de um momento histórico. Disse uns.
Coisas assim, e declamei a primeira poesia do Sarau Suburbano Convicto. Expliquei que escrevi ela porque já usei roupas que minha mãe (que Deus a tenha querida Luzia Buzo), ganhava das patroa, ela foi por anos doméstica, antes de se tornar funcionária pública municipal de SP, hoje tenho uma marca de roupas "Suburbano Convicto", frisei ainda quantas vezes eu queria comprar um livro e não tinha grana e hoje tenho uma livraria.
A poesia, primeira do Sarau Suburbano Convicto nem nome tem, mas batizo de "EU"

Peguei tudo que a sociedade me ofereceu.
Saúde Pública, escola pública.
Transporte Coletivo.
Esgoto a céu aberto na infância.
Roupa Usada que minha mãe ganhava das patroa.
Juntei tudo, bati num liquidificador e sobrou....EU !!!
(Alessandro Buzo)

Anunciei ainda, antes de começar o Sarau, que depois da Copa do Mundo (80% tudo certo), estaremos com o "Espaço Suburbano Convicto", funcionando dentro da Casa de Cultura do Itaim Paulista, com Biblioteca Permenente, Sarau, Oficinas, exibições de filmes, palestras e debates.
Estamos na parte burocrática e só adianto que eu pessoalmente estarei a frente do Espaço, contratando assim alguém para ficar na Livraria do Bixiga.
Depois falo mais sobre isso, vamos voltar ao Sarau.
Nessa primeira edição do Sarau declamaram 14 poetas, foram eles nessa ordem, Alessandro Buzo, Raquel Almeida, Vagnão, Marciano, Lids, Juma, Drix, Thais Quilombaque, Liciete, Adrio, Shirley e Diego (fizeram uma rima juntos), precisava ver a cara da Mônica Cardim que não espera o rapaz de social ao seu lado mandar a rima, depois da dupla a própria Mônica Cardim declamou (antes disse que era a primeira vez que declamava num sarau, sempre está presente fotografando), acho que foi porque esqueceu a maquina em casa, espero que continue, pra encerrar Michel da Silva, representado pela Raquel que declamou uma dele.
Enquanto a nossa medalha da sorte Yakini continuava falando e mexendo com o Vagnão.
Ontem foi um dia para guardar no coração.

Alessandro Buzo
www.buzo.com.br


Thaís do Quilombaque


Mônica Cardim declamando pela primeira vez num sarau


Andrio fez poesia em homenagem a filha com ela no colo


Diego e Shirley do Itaim Paulista


Drix


Luciete


Yakini e Vagnão no primeiro plano


Juma


Lids


Livraria Suburbano Convicto
Rua 13 de Maio, 70 - 2o and - Bixiga
São Paulo SP CEP: 08142-010
(11) 2569-9151
www.livrariasuburbanoconvicto.blogspot.com
suburbanoconvicto@hotmail.com

Fotos: Marilda Borges

Twitter: @Alessandrobuzo