POr: Samuel da Costa
samueldeitajai@yahoo.com.br
̶ Alexandre meu filho, tu sabes qual a melhor forma de se controlar alguém? Saturnino Caetano inquire o filho de forma vaga.
̶ Do que ‘’tas’’ falando velho?
̶ É só deixá-la fazer o que bem entender. E quando sair pela aquela porta afora, meu filho, lembra-te do que teu velho está te dizendo ̶. O velho metalúrgico e sindicalista aposentado, bem sabia das atividades ilícitas do filho mais novo. E de repente pensa no filho mais velho, na luta para ver Luis Carlos formado em história.
̶ Sei que tu ‘’é’’ mais velho que eu pai. Mas o que sabes da vida de hoje? A pergunta, do filho não atormentar o velho operário. Saturnino não podia olhar através dos óculos escuros que o filho usava, mas bem sabia do ódio que faiscavam naqueles olhos. Já sentira a mesma coisa antes, quando estivera no cárcere, no tempo da repressão, no período que alguns chamam de ‘’anos de chumbo’’.
̶ Sei da minha vida, velho, e não quero que se intrometa em coisas que não sabe! Diz Alexandre com todo ódio do mundo para o pai.
̶ Sei mais que pensas guri, bem mais! Todo o horror de anos atrás, quando fora dependurado pelos braços e torturado lhe vem à cabeça, com toda a força.
̶ Do que ‘’tas’’ falando, velho ‘’Caetano’’?
̶De nada meu filho, só quero dizer que te amo, e sempre vou te amar filho! Alexandre na porta e pronto para sair, olha para trás e tira o óculo e encara o pai nos olhos, e toda a fúria assassina que Saturnino Caetano presenciara anos atrás, retorna com toda força.
̶ Não sou mais homem ou menos homem que o Calinho, com aquele diploma, pai!
̶ Não é isso que ‘’to’’ falando Xande...
̶ Não me espera para o jantar! Diz Alexandre saindo pela porta afora, sendo tragado pela escuridão da noite. E sequer se volta para o pai ao proferir as últimas palavras. Alexandre leva na mão a cintura com um ato desesperado. Saia com toda a certeza de nunca mais voltar para casa...
Samuel da Costa é contista em Itajaí - SC
quarta-feira, 5 de maio de 2010
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