domingo, 17 de dezembro de 2017

TEXTÃO !!!


Crônica: Sobre politica, terno de 15 mil e atualidades.
Por: Alessandro Buzo

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Esses dias no Litoral Norte vi um carro de luxo escrito atrás #BOLSONARO
Pensei: - O que esse FDP pensa pra apoiar um cara nojento como o Bolsonaro. Depois fiquei triste de pensar que ele não é um caso a parte, são muitos.
E o pior, essa direita absoluta e burra, é uma tendência mundial, vide Trump nos Estados Unidos e mais próximo de mim, o Dória eleito prefeito de São Paulo no primeiro turno, com muitos votos vindos da periferia.
- O que leva um morador da periferia votar no Dória, pelo amor de Deus, é muita inocência cair num golpe de marketing que fez do playboy almofadinha, um "trabalhador" da noite pro dia, também foi malandro, de numa hora que "geral" estava descrente com os políticos, dizer que não era político, era um gestor. Disse e fez tudo que o povão quer ver e ouvir, lembra ele varrendo rua no início da sua gestão, tem gente que abraça.
E o Tiririca que apoiou o GOLPE e depois renunciou, fez um discurso tirando o dele da reta e pra legião de tele-guiados e alienados, sai como herói ou sei lá que porra. Apoiou o GOLPE, e agora, com dois mandatos com milhares de votos (quem votou nele mesmo), vai se aposentar e viver de boa por anos, pela vida toda, as nossas custas. Vi ele chorando na TV porque não conheceu o pai, cena lastimável, sei que não conhecer o pai é um trauma grande pra qualquer um, mas se expor ao ridículo na TV é querer se mostrar humano, povo. Não caio nessa.
O Naldo bateu na mulher e depois posta um vídeo também ridículo, chorando, pedindo perdão, dizendo que não ouvia a mulher dizer que ele precisava se tratar, depois que bate nela, vem pagar de coitadinho, pra não ficar queimado com a opinião pública, o feminicídio é um mau crescente e um artista que agride a mulher, mostra que ele é igual a maioria da sociedade, machista, homofóbica, violenta, digo "maioria" porque assim como os burros que votam no Aécio acreditando na sua lábia, são muitos, milhões. Acham que mulher é uma propriedade, não aceitam separação, que muitas vezes é motivada por maus tratos, violência, bebedeiras, traições. Mas quando acaba, ele não aceita, que a sua escrava, empregada, amante, dê fim a essa situação.
Vejo o mundo com descredito, não vejo melhoras, a mídia manipula a opinião pública como e quando quer.
Será que o caso FORA DILMA, não viam que o "protesto" dos tele-guiados de verde e amarelo era transmitido ao vivo e os que não queriam TEMER, PMDB, PSDB, era ignorado e oprimido pela polícia, enquanto no outro, pessoas do bem tiram foto com a tropa de choque. Não pretendo "salvar o mundo", porque convencer milhares de pessoas que elas precisam ler nas enterelinhas, é muito complexo, levaria muito tempo e tempo é dinheiro, tempo é saúde, tempo é qualidade de vida. Prefiro em vez de salvar o mundo, ser um bom marido, pai presente, bom vizinho, fazer o bem, pra pelo menos, fazer a minha parte.
Tentei e me arrependo de ter tentado a política tradicional, esperava ser candidato à vereador em São Paulo pelo PCdoB e representar uma classe, dos artistas da periferia e do Hip Hop, coisas que acredito que muda vidas e transformam pessoas, de tabela combate a violência. Mas fui ignorado por muitos artistas que não quiseram se queimar dando a cara pra bater, muitos que me conhecem, não acreditaram na proposta, tive 1.023 votos de 15, 20 mil que precisava, enquanto isso o Fernando Holiday foi eleito pra fazer um mandato torto, contra o povo e contra a cultura, fora o Dória acabando com tudo. Se 20 mil pessoas dos 300 mil votos que teve o Suplicy, votassem em mim, teria eu e ele lá, mas não, votaram nele, vários conhecidos meu, mesmo sabendo que ele já entra eleito. Já votei e votaria no Suplicy, mas o que quero dizer é que muitos poderiam fortalecer a base, votando em mim, porque como era claro que o Suplicy entraria, seriamos nós dois lá.
Fiz um campanha sem dinheiro, sem tempo na TV e na minha quebrada, Itaim Paulista, teve gente perguntando quando seria o churrasco, quando eu pagaria a cerveja, associam o candidato a isso, a "doar" um jogo de camisa pro time da várzea, querem candidatos que prometem o que não vão cumprir.
Não, não quero isso de novo pra mim, tentei, dei a cara pra bater e foi válido, mas não faria de novo.
E outra, quantos vereadores e deputados não são reeleitos e vários mandatos, fazendo as mesmas promessas vazias.
O povo precisa ler mais e ver menos novela e Datena´s, precisa ser mais malandro, senão são tele-guiados como boi indo pro abatedouro.
Ver o Bolsonaro uma saída é ser cego, burro e muitos estão indo nessa onda.
Voltando a periferia e ao Hip Hop, vejo as criticas ao Emicida por ter usado num show um terno de 15 mil.
Mano, se ele comprou o terno com o dinheiro dele, o dinheiro dele é limpo, deixa o cara usar, ostentar, todo pobre quer ser rico, pra isso trabalhamos, pra isso milhares jogam na Mega Sena o ano todo, o sonho de todo pobre é ser rico, isso não é um erro, errado é fazer qualquer coisa pra isso, mas se o cara faz o corre dele, a musica dele, a marca dele e o dinheiro hoje dá pra comprar um terno de 15 mil, que seja. Alguém já foi no extremo da zona norte, no bairro do Cachoeira, ver onde e como ele cresceu, cresceu pobre, teve a casa derrubada pela prefeitura numa área invadida, depois reergueram a casa e lá estaria até hoje se não fosse a música e o dinheiro que o seu trabalho trouxe, não podemos querer que artistas do Hip Hop façam voto de pobreza, senão a juventude não vai querer seguir, ele vê o MC de funk ostentando, ele vê os sertanejo tudo rico, vão querer o Hip Hop se nele só tiver gente falida.
Eu me orgulho de ser do Itaim Paulista, mas hoje moro na Praia de Camburizinho, comprei um terreno e construi com dinheiro limpo, que ganhei na literatura, no hip hop, na TV principalmente, vim morar no litoral norte pela qualidade de vida.
Pra salvar o mundo, acredito, precisa primeiro pagar as contas, por comida na geladeira da tua casa, pagar um convênio médico se possível. Ser um pai ou mãe presente, mesmo que o casamento não tenha dado certo, o filho não tem culpa.
Uma pessoa como eu que tive um pai ausente, desde os meus 12, 13 anos, seria muito filha da puta se fizesse o mesmo, não fiz.
Muito Mi Mi Mi, blá blá blá. Hoje nas redes sociais, todo mundo tem voz, mas nem todo mundo tem algo a dizer.
Vejo a periferia desunida, apoiando os mesmos carrascos de sempre.
Veja o tanto de denúncia contra o Aécio Neves, mas a 3 anos, 49% dos brasileiros votaram nele, todo esse processo de Fora Dilma nasceu dele não ter aceitado a derrota e ter inflado os verde amarelo, aquele que protestaram de Camisa da CBF, maioria classe média (alta ou baixa), paneleiros e afins.
Caimos no GOLPE e estamos tudo ferrado, vendendo o almoço pra comprar a janta.
Quando um dos nossos está em alta, bem e pode comprar um terno de 15 mil, vem o BATALHÃO DE POLICIAMENTO policiar a vida alheia, tem rico que gasta 15 mil num jantar, num vinho.
Precisamos acordar os que não enxergam o óbvio, nos querem pobres e desunidos, fazendo voto de pobreza e com a geladeira vazia.
Sei que virou um textão, nem sei se consegui passar direito o que eu penso, só queria desabafar e tirar essas coisas entaladas na minha garganta.
Esse texto é um pedido pra perder seguidores no Facebook, ótimo, a fila anda, sai quem nem deveria estar e abre vaga pra quem quer chegar.
Não me diga pra que lado devo seguir, sigo o meu coração e trabalho muito, pra dar o melhor que eu puder pra minha família e quem eu posso ajudar, direta ou indiretamente. O resto é intriga da oposição.
BOAS FESTAS e 2018 não é só ano de COPA, aliás, foda-se a FIFA, é ano de eleição.
Mega chance de fazer uma limpa, mas acho difícil, povo gosta de promessa.
Alessandro Buzo
escritor.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Falando em Rogério 157 que foi preso hoje no Rio de Janeiro, publico conto (ficção) que escrevi em novembro, quando estive na Rocinha.

Um dia qualquer na Rocinha
Por: Alessandro Buzo



Bruno, conhecido também como Magrelo, é morador da Favela da Rocinha no Rio de Janeiro, a maior do Brasil.
Mora na comunidade há 7 anos, antes morou no Vidigal, na verdade a casa atual é a décima sétima da vida, tem mania de listar as coisas, desde pequeno morou em 17 casas, 15 com sua mãe e irmãos e duas desde que passou a morar sozinho.
Acordou naquele dia com o reflexo do sol na cara, calor da porra logo cedo.
- Putz, quase meio dia. Se assustou ao ver 11h48 no relógio.
Ligou a TV pra ver o gols do mengão, ganhou ontem, domingo, por 2x1 do Cruzeiro no Maraca, queria ter ido ao jogo, mas uma dureza dos infernos se abateu sobre ele, a uns dias sem dinheiro pra nada, passou final de semana na casa da namorada, que emprestou o da passagem pra ele voltar.
Olhou ao redor e confirmou o que já sabia, sua casa estava de pernas pro ar, precisava dar uma geral urgente, pelo menos um mínimo precisava ser feito, com muita urgência.
Antes, assim que viu os gols no RJTV 1a edição, jogou uma contra a maquina no futebol do XBOX, jogão, 1x1. Torce pra ele mesmo quando joga, grita, xinga.
Abre o computador, geral no Face e email, ver se algum trampo chamou, faz freela de fotografo, seu vídeo game, computador velhinho e sua câmera fotográfica é tudo que tem na vida, além dos seus livros, meia duzia de peças de roupas.
BINGO !!!!
Um email fizendo pra ele passar em Botafogo e receber por um freela que fez de fotos, mas lá só paga com o RG, ele sabe que não adianta ir sem. O problema é que ou ele perdeu, ou está sumido na bagunça da casa, precisa receber pra comprar cigarro, maconha, comida, falta tudo.
Foi passar um café, mas não tinha coador, decide tomar uma água gelada.
- Puta que pariu, nem uma água gelada tem.
Olhou a última garrafa, ao lado do seu colchão, pegou e bebeu um gole, apesar de quente.
Começou uma arrumação a procura do RG, já perdeu com esse, sete RG´s.
Levantou o colchão e saiu pegando copos, pratos e talheres espalhados pelos dois cômodos, juntou na pia a uma louça equivalente a uma montanha. Começa a lavar, sem a louça lavada, qualquer arrumação é em vão.
Quarenta minutos depois, louça lavada como a muitas semanas não se via, desde a última vez que a Bia, sua namorada, esteve lá. Juntou uns livros, colocou nas prateleiras.
Arruma daqui, dali e nada de achar o documento, a fome gritava, comeu seco três bolachas de maisena num pote e duas bolachas recheadas meio murcha num pacote jogado. Precisava por a mão na grana, almoçar arroz, feijão.
Mas acabou não achando o RG, traçou um plano, descer na delegacia do bairro em São Conrado, fazer um B.O. de roubo, pra justificar a perda do documento e evitar a taxa da segunda via, ou oitava via.
Depois que fizesse isso, o B.O. e o pedido de um novo RG, tentar receber com a carteira profissional e o protocolo do RG.
Desceu as vielas da Rocinha a milhão, a descida quando está sozinho é rápida, cada passo pula uns quatro, cinco degrau.
Passou pela boca e pensou que não tinha grana pro baseado, achou uma ponta na arrumação e deu um trago, mas precisava pegar um verde. Na volta, se recebesse.
Chegou na 11a delegacia, usar suas técnicas de teatro, pra se passar por assaltado.
Tudo começou bem.
- Quero fazer um B.O., fui assaltado agorinha mesmo.
- Levaram o que do Sr.
Gostou do Sr.
- Celular, que não valia grandes coisas e minha carteira, com uns trinta e poucos reais e meu RG. Vim fazer o B.O. só pelo RG, vai saber o que o maluco vai fazer com ele.
Senta ali, já te chamo.
Passou dez minutos e nada, até que vem um policial na sua direção.
- Mora onde rapaz ?
- Na Rocinha. Respondeu seco, mas com simpatia.
- Pô cara, você mora na favela e foi roubado na pista ?
- Pro sr. ver como anda as coisas.
O polícia segue.
- Tem passagem na polícia ?
- Com todo respeito, se eu devesse alguma coisa, acha que eu estaria aqui.
- Usa droga ? Fuma um baseado ?
Magrelo preferiu ser sincero: - De vez em quando, em casa, dou uns trago.
O polícia chamou outro PM: - Olha o cara, vem na delegacia dizer que fuma maconha.
-Ta maluco magrelo.
Bruno pensou, como ele sabe meu apelido, respondeu a eles com calma.
- Desculpa, não quis ofender, o Sr. perguntou e eu só respondi, preferi dizer a verdade.
O segundo PM diz: - Quando for assim, você mente. Não fala que usa droga pra um policial.
- Nem fumo sempre, foi mal. Podemos fazer o B.O. ? Fui assaltado.
O primeiro policial indica uma cadeira pra ele sentar.
- Vamos lá, foi roubado onde, como ?
Magrelo pensou que seria clichê dizer que tinha sido um negro, não é preconceituoso e não queria reforçar o estereotipo.
Enfim disse: - Um cara branco, de moto, parou e disse: - Perdeu mané. carteira e celular.
Apontou uma arma.
- Passei pra ele que partiu, disse mais nada. Fui roubado por um branquelo.
- Viu o rosto dele ?
- Não, estava de capacete, lá tem várias câmeras de vigilância, podiam tentar ver a placa da moto. Disse Bruno gastando no teatro.
O PM que digitava o B.O. pensou: - Até parece que alguém vai se dar a esse trabalho, por uma carteira com trinta e poucos reais.
O primeiro PM voltou e disse: - Ai, tu mora na favela, sabe que não pode roubar perto da comunidade, em vez de fazer B.O. você deveria ir reclamar com o Rogério 157. Você conhece o Rogério 157 ?
- Não senhor, nunca ouvi falar.
O segundo PM chega perto dele e diz: - Você mora na Rocinha e não conhece o Rogério 157 ?
- Pô senhor, vocês pediram pra eu mentir, não falar a verdade pra vocês, decide ai, se falo a verdade ou não.
- Essa foi boa, vou aliviar pra você.
O que digitava imprime o B.O. e dá pra ele: - Vamos investigar, taí o seu B.O.
Com o boletim, foi voando pedir uma nova segunda via do RG. Sem ter que pagar taxa.
A fome apertou, passou pelo carrinho da Cida que vende empada a um real na entrada da Rocinha, antes de chegar as vielas que levam pra todo lado na Rocinha é um mar de comércio, vários bares, academia, igreja, puteiro, padaria com pão quente qualquer hora da madrugada. Tem de tudo.
- Cida, me vende três empadas fiado, pago a tarde quando voltar.
- Que sabor.
- Empada de 1 real, ainda fiado, tenho nem direito de escolher sabor, qualquer um serve.
- Ta na mão.
- Obrigado, matou a fome de um trabalhador.
Ela riu. Ele partiu.
Deu entrada no RG novo, mas viu que não daria mais tempo de chegar até 17h em Botafogo. Ligou pra namorada, contou como foi seu dia.
- Tô voltando pra casa, pelo menos ela está arrumada.
- Da um perdido no busão e vem dormir em casa, peguei uma grana, faço uma janta boa e te empresto R$ 50,00 até tu receber.
- Fechou, lá em casa não tem nem água.
Partiu, a Bia era a mulher da sua vida, nunca ninguém se preocupou tanto com ele, voltou de onde estava, já estava dentro da Rocinha, pensando na Bia quase foi atropelado por um dos muitos moto taxi que circulam na favela a mil.
Com o susto, ficou atento e partiu, que dia cheio. Só dar um perdido no bus e cair nos braços de sua amada.
Um dia Bruno pensa em virar escritor e escrever sobre sua vida na favela. Leu em algum lugar sobre uma tal de Flup, que transforma periféricos em escritores, queria isso pra ele, sempre gostou de ler e tem vários livros na sua humilde casa, costuma dizer que uma casa pobre é uma casa sem livros.
Sua casa é só humilde, mas se virar um escritor famoso, duma companhia das letras da vida, ganha um desses prêmios de 200 mil e compra uma casa pra casar com a Bia.
Da sinal e pega o ônibus. Pós graduado em viajar sem pagar, ou como dizem: - Dar um calote.

Alessandro Buzo é escritor, autor de 13 livros.
www.buzo10.blogspot.com
suburbanoconvicto@hotmail.com