sábado, 31 de março de 2018

Conto inédito.


O rolê sem futuro.
Por: Alessandro Buzo


***
- Salve Alex, firmão meu truta.
- Firmão, tô com duas pedra aqui, louco pra fumar um mesclado, vai salvar o baseado.
- Puts, estava indo buscar, mas vamô junto lá no Romano, é longe mais vem servida, a gente já fuma na linha do trem.
- Demorô, bora lá.
Rolê longo, andando uns 30 minutos, mas partiram na disposição, no meio do caminho encontraram o Jean que foi também no bonde.
Melhor seria pegar a maconha ali mesmo nos predinho, paranga de R$ 10,00. Mas não, foram no Romano que a bucha de R$ 20,00 vem um montão, coisa de ter fumo vários dias.
No caminho, zueira com amigos, conhecidos, são nascido e criado ali, no Itaim Paulista véio de guerra.
Admirando a beleza das meninas que passam por eles, no respeito é claro, respeito é preciso.
Já na Avenida Marechal Tito, pedaço dela antes de quebrar a esquerda, cruzar a linha do trem, mais 5 minutinhos chegar ao destino. A primeira viatura do dia, ela chega próximo ao trio, passa a 10km por hora, olha no olho do grupo, mas passa batido.
- Pode soltar a respiração camaradas, os vermes passaram batido. Disse o Mota.
- Caraio, 2 pedrita no pente, ia ficar complicado o desenrolo. Disse o Jean.
- Se eles encontrassem. Disse o Alex.
- Onde estava. Quis saber Jean.
Alex sorriu e tirou as duas pedras da boca, disse que ganhou os polícia vindo e na pura calma, pegou no bolso e colocou na boca: - Era eles gritarem: - Mão na cabeça, e eu engolia.
- Caraio mano, responsa, responsa no baguio.
Chegaram, cansados, pararam numa birosca e compraram uma tubaína no saquinho. Vem num saco plástico e um canudo pra puxar. Compartilharam a bebida, pra molhar as palavras.
- Uma bucha de R$ 20,00. Disse o Mota.
- E aquele dois maluco ali, tão contigo ?
Apontou Alex e Jean na esquina.
- Tão sim, limpeza meu chapa.
- Toma lá e vaza.
- Nóiz chapa, tranquilidade.
- Tranquilidade é uma porra, os verme tão vindo aqui toda hora.
- Na paz, fui.
Alex pergunta: - Qual foi o desenrolo lá com o cara ?
- Foda de vir aqui é isso, os cara são tudo cabreiro, primeiro perguntou de vocês, depois disse que a polícia vem ai direto.
- Quer andar tranquilo arruma um trampo de carteira assinada.
Todos riram da piada do Mota.
Chegando na linha do trem, decidiram que fumariam de vez duas bombas de mesclado, maconha com crack, pra não ter pedra na volta, só o restante da maconha, chegando na rua de casa, fumam um do puro, pra aliviar a nóia do mesclado com o sol na cabeça, que vai dar a maior brisa.
Bolaram e fumaram, cheirão de melado.
Passou três trens no período, passageiros dentro olhavam tristes pra eles, usando droga na linha do trem, uma das composições passou devagar e o back foi maior, como estava acabando, eles sairam andando, matando a ponta.
- Viu o povo do trem, pra eles nós somos bicho.
- Vai ver o filho da tiazinha é o maior nóia e ela preocupada com a gente.
Riram e andaram, a volta foi mais rápida.
Mas, assim que apertaram um do purinho na viela, os homi brotou.
- Mão na cabeça cambada.
Vai os três, mais o Patrick que estava quando eles chagaram, por a mão pra cabeça e a cara pro muro.
- Documento. Quem tem passagem já avisa logo.
- Só assinei um 16 uma vez senhor. Disse o Patrick.
- Mais alguém ?
- Não senhor. Disse o Mota.
- Tão fumando um baseado ou um mescladinho ? Perguntou o PM negro.
Jean que é negro e odeia quando vê um PM negão responde: - Aqui ninguém é viciado nessas porcaria não, geração saúde, só um baseado pra descontar a neorose de ter ido procurar um trampo e não ter encontrado. Ficar na quebrada é sem futuro, em casa é a família falando pra caralho das contas atrasadas, na rua é a polícia o tempo todo.
O outro que voltava com os documentos, ninguém devia nada, disse ouvindo o fim do discurso do Jean: - Tão liberado, vou confiscar o baseado que esse maluco aqui é bem folgado. E deu um tapa no peito do Jean, deixando cair os Rgs no chão.
Assim que a PM saiu, Patrick sacou um mescladinho bolado de dentro da carteira, todos falaram: - Caraio, olha o cara, fomos surpreendidos novamente.
Fumaram e foram pra casa.
- Assistir o Globo Esporte que o Palmeiras ganhou ontem.
- Nem me fala dessa fita. Disse Mota que torce pro rival que perdeu.
- Mais tarde rateio pra gente dar um tiro na farinha, cada um chega com dez. Patrick convocou.
Assim segue a vida, só mais uma terça-feira qualquer na quebrada.
Quando você se desvia do caminho, o caminho se torna outro, muitas vezes, sem volta.


Alessandro Buzo
escritor e cineasta.

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