terça-feira, 21 de dezembro de 2010

1a CARAVANA DA POESIA

Por: Caranguejúnior
FONTE: www.poesiadedaremdoido.blogspot.com

Nos dias 18 e 19 de Dezembro do ano 2010, foram os dias em que participei de uma experiência pra lá de emocionante e libertadora, os dias que foram realizados a 1° Caravana da Poesia, onde poetas de São Paulo foram ao Rio de Janeiro para 4 Sarais na periferia.A “viagem” começou mesmo na sexta-feira dia 17, onde me encontrei com o Poeta Marcelo Tadeu integrante do grupo Poetas do Tietê, em um bar no Anhangabaú, para umas cervejas e conversas antes de embarcarmos no buzão, e de onde iríamos direto para o Bixiga, mais precisamente n° 70 da rua 13 de maio, onde é o local da livraria do Buzo (Suburbano Convicto). Chegando ao local não havia ninguém na livraria, o porteiro pediu que entrássemos, pois, já haviam poetas lá em cima aguardando, subimos as escadarias e a livraria estava fechada e retornamos pelos degraus, para nossa surpresa havia uma poetiza do sarau da Cidade Ademar, uma das Camilas (Milane), sozinha, fumando um cigarro, ela nos chamou e nos informou que estava trancada lá, quando fomos até o portão, verificamos que o porteiro tinha nos deixado trancados no recinto também, entre gritos e assobios, ninguém estava lá para abrir o portão. Depois de várias ligações e quase 40 minutos trancados, vieram nos acudir, abriram o portão e foi uma sensação boa de liberdade. Subimos a 13 de Maio para encontrarmos o Pezão, achamos logo o poeta junto com o poeta Valmir Jordão e Tubarão, decidimos então, descer a 13 de Maio para tomarmos algumas geladas e papearmos, entre sobe 13 e desce 13, encostamos em um bar conhecido dos Poetas Valmir e Pezão. Entre cervejas e cervejas, os poetas que iriam participar da caravana, foram chegando, Sarau do Binho, Elo da Corrente, poesia na brasa, Sarau da Cidade Ademar, Suburbano convicto, Círculo palmarino e Vila Fundão, fora os Poetas do Tietê. O ônibus estacionou quase a uma da madrugada, e já estávamos quase todos embriagados de tanta cerveja que rolou, embarcamos e o ônibus partiu em direção a cidade maravilhosa.

Dentro do “buzão”, a alegria estava tomando conta, muitos poetas estavam indo ao Rio de Janeiro pela primeira vez e ainda por cima, para recitar poesias. Entre batuques de pandeiros e versos de samba, rap e (“ninguém vai nanar”) a viagem foi embalada pela madrugada adentro. Chegamos ao RJ e pegamos logo um engarrafamento monstro na Rodovia Presidente Dutra, conseguimos chegar ao SESC Ramos, onde fomos recepcionados, por volta das dez da manhã, a viagem foi longuíssima e cansativa, mas, todos estavam animados para a aventura poética na cidade. Tomamos café da manhã no SESC Ramos, almoçamos e relaxamos um pouco antes da partida para o primeiro sarau - Complexo do Alemão.

O ônibus partiu para o Complexo do Alemão, precisamente na Grota, uma das comunidades do local, o Buzo gravou a nossa chegada para o programa Manos e Minas da TV Cultura, desembarcamos na comunidade e logo de cara vimos as cenas que até então, só tínhamos visto pela TV, soldados armados de fuzis e metralhadoras, tropa de elite, caminhões de guerra, circulando pelas vias, o momento foi de tensão, mas, sabíamos que nada iria abalar a nossa vibe positiva. Seguimos até o local onde rolou o sarau, era um evento da comunidade chamado Circulando, sétimo ano que rola esse evento por lá. Os poetas foram anunciados pelos microfones e logo estávamos todos unidos, poetas-comunidade, na mesma sintonia. O Sarau começou com os tambores do Sarau da Brasa chamando os poetas, vários poetas se apresentaram, nesse meio tempo, os Poetas do Tietê foram até uma parte da comunidade gravar os vídeopoemas para exibição no blog, enquanto o sarau pegava fogo na outra parte do evento. Tudo correu bem, sem problemas algum, a receptividade da comunidade foi na paz, saímos do complexo do alemão por volta das cinco e tantas da tarde em direção a comunidade Fallet em Sta. Teresa.

Dentro do buzão indo em direção a Sta. Teresa, víamos da janela a beleza e a pobreza da cidade, uns pontos lindos, outros nada agradáveis do RJ, chegamos em Sta. Teresa por volta das seis e meia da noite, desembarcamos em um ponto onde tinham vários casarões antigos, ruas de paralelepípedos, bairro bem arborizado e bonito, logo pensamos que iríamos recitar naquele lugar amistoso, puro engano. Começamos a caminhar pelo bairro, subindo e descendo ladeiras, entrando por vielas e escadarias, logo a face da comunidade foi revelando-se para os poetas. Homens armados com pistolas e fuzis nos fitando, o tráfico imperando nas ruas, a pobreza de alguns a riqueza de outros e a tensão tomou conta de todos que ali estavam, sem exceção. Fomos chegando próximo ao local onde estava acontecendo um evento organizado pela comunidade, a cena foi de susto, bandidos armados faziam a segurança próximo ao local, uma fotografa que nos acompanhava, retirou a câmera da bolsa e logo foi repreendida por um dos traficantes, dizendo que não podia filmar nem fotografar e isso a base de gritos, a moça ficou em pânico e começou a chorar, o escritor Julio Ludemir que estava nos acompanhando e conhece a comunidade, foi conversar com o traficante para amenizar a situação. Subimos para o local do sarau que correu bem, apesar da tensão que rondava por ali, ao final do sarau, fomos convidados a comer um enorme bolo (e por sinal uma delícia!) que a comunidade havia preparado para o evento. Logo chegou a hora de parti já eram quase dez da noite, teríamos que subir ladeiras e escadarias novamente, poucos estavam dispostos, um dos traficantes que estava mais enturmado com os poetas, fez questão de ir buscar o ônibus para que não fizéssemos aquela romaria toda da subida, mais, não teve jeito, o ônibus não entrava naquelas vielas apertadas da comunidade, subimos a base da “canela” e chegamos ao buzão, suados, cansados e felizes por tudo ter corrido bem. Partimos então, para o terceiro sarau do dia no Morro Agudo em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense.

Embarcamos e o ônibus partiu para Nova Iguaçu no Enraizados, uns cansados, outros ainda com as baterias carregadas, porém, ninguém desanimado, ainda estávamos no clima de adrenalina ocorrido no último sarau na comunidade Fallet. Chegamos ao local, centro de cultura do Enraizados por volta das meia noite e meia, e no local já estava rolando um evento com música e foi só os poetas chegarem que a animação tomou conta de todos, assistimos as apresentações de free style do MCs do projeto Enraizados, muito bom por sinal, tinha um menino de onze anos que mandou muito bem no free style. Após a apresentação dos MC’s, começou o nosso sarau com a abertura do sarau da brasa com os tambores chamando os poetas para recitarem, tudo na maior paz e alegria, todos os poetas visivelmente cansados fizeram um recital muito louco, mandaram bem em todos os poemas, encerramos com os tambores da brasa a noite de poesia, mais ainda rolou uma batalha de MC’s na brincadeira com os poetas e os meninos do projeto Enraizados, a noite só estava esquentando, um churrasco e muita cerveja ainda estava para sair, enfim, lembro que fui dormir por volta das cinco da matina, embriagado e com a garganta ruim de cantar e as mãos doendo de tocar atabaque.

Despertamos logo cedo numa manhã de domingo quente a beça, para nos organizar para ir à praia, de inicio a dúvida de qual praia ir, mais, a maioria venceu, iríamos a Ipanema, o buzão encostou por volta das onze da manhã, embarcamos de mala e cuia, pois, era nosso último dia no RJ, fomos a Ipanema, chegando no local de desembarque, logo todo mundo se espalhou, os Poetas do Tietê foram até Copacabana onde gravou-se um Videopoema na estátua do Drummond, que fica à beira da praia, e curtimos o Arpoador e Ipanema também. Tudo muito bom, tudo muito bem, mas, ainda teríamos o último compromisso no morro do Borel, último sarau da Caravana da poesia, embarcamos no buzão por volta das seis da tarde e partimos para o Borel.

Chegamos na comunidade por volta das sete da noite, desembarcamos em frente a um SESC, e pegamos umas kombis que é o transporte tradicional de quem sobe o morro, pois, o ônibus que estávamos não entrava nas ruas estreitas da comunidade, tampouco, subiria aquele morro imenso, a vista lá de cima era maravilhosa, dava para ver o RJ inteiro, muito lindo mesmo, o lugar não poderia se chamar outro – Chácara do Céu- onde desembarcamos na casa do Sr. Gabeira, líder comunitário, haviam duas placas que anunciavam “Rajadas Poéticas: Os Poetas estão chegando” no terraço da casa, sua esposa e família nos recepcionaram com uma galinhada (uma delícia!) para matar a fome dos famintos poetas, comemos bastante e depois ainda rolou uma sobremesa para fechar o banquete, subimos a laje da casa do Sr. Gabeira para admirar aquela paisagem deslumbrante do RJ é a melhor digestão que existe, comer e olhar a paisagem. Hora do último sarau, fomos para o local, uma antiga igreja, próximo a uma UPP (unidade de polícia pacificadora) da comunidade, fomos nos organizando e chamando a criançada toda para participar, alguns minutos depois, a comunidade já estava nos aguardando começar o sarau. Foi demais, a comunidade aplaudia cada um dos poetas que se apresentaram como se fosse o primeiro sarau da caravana, um dos melhores que fizemos nos dois dias de caravana, e para encerrar o sarau, fizemos uma ciranda com todos os presentes, as crianças adoraram. Nos despedimos de todos por volta das onze da noite, felizes, com a sensação do dever muito bem cumprido. Embarcamos nas Kombis e fomos em direção ao ônibus, embarcamos no “buzão” e hibernamos, não se ouvia um ruído de vozes, pandeiros ou outra coisa qualquer, só os roncos e respirações dos poetas fadigados. Por volta das três da madrugada, acordamos com o ônibus balançando e um barulho, o pneu do buzão havia estourado, um detalhe que não poderia faltar na aventura, toda caravana tem o seu perrengue, o motoristas e alguns dispostos desceram para trocar o pneu, depois de uns quarenta minutos, estávamos de volta a estrada. Chegamos em SP por volta das sete e meia da manhã da segunda feira, dia 20, cansados e felizes, com um gostinho de quero mais, fechando o ano com chave de ouro... olhei para trás e vi os poetas com suas malas voltando para suas casas e vidas reais.


Estação do teleférico, Complexo do Alemão (RJ)


Alessandro Buzo (foto) e Vagnão da Brasa apresentaram o SARAU da 1a Caravana da Poesia noi Alemão e Enraizados.


Marco Pezão recitando no ALEMÃO


Alessandro Buzo e Marilda Borges no Complexo do Alemão


Jefferson Carvalho, estreiou como fotografo da Suburbano Convicto, porque a Marilda Borges estava filmando.

Fotos: Marilda Borges e Jefferson Carvalho

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