quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

GRANDES LIVROS - Resenhas de Jéssica Balbino

Num lugar muito distante

Do livro “Muito longe de casa – memórias de um menino soldado” de Ishmael Beah
por Jéssica Balbino*

A sensação, ao terminar o livro, é como estar, realmente, muito longe de casa.
Triste. Rico. Vivo. Latente. Real. Assim é o relato de Ishmael Beah, o menino soldado. Africano. Pobre e preto. Sem família, comida, destino, paradeiro, sonhos. Sozinho pelo mundo, vítima da maldade humana, tornou-se soldado lutando do lado daqueles que lhe tiraram a família e mais um, viciado em cocaína, viveu toda infância e adolescência num campo de batalhas, onde a morte parecia mais natural do que comer ou mesmo sonhar.
A guerra civil do país Serra Leoa fez muitas vítimas, entre eles, amigos e familiares de Ishmael, que ele teve que ver morrer antes mesmo dos 12 anos, sem imaginar qualquer recompensa por tanta luta.
Vivia a procura do que comer quanto do estômago doesse e nessa luta para manter-se vivo, deixou muitos pedaços de si morrerem, ao ser torturado por grupos de soldados e inimigos do seu porro, sem saber porque apanhava.
Assim, não sentiu a dor de matar pela primeira vez, nem a segunda e nem de viver como um soldado, armado e com o sangue frio, matando para ter o comer, sob o efeito da cocaína, maconha e cheiro de pólvora. O estômago deixava de doer e fome, mas embrulhava diante das próprias atrocidades.
Digna de cinema, a história é baseada no relato do próprio jovem, que hoje tem 26 anos e é integrante de uma Ong que luta por direitos humanos.
A leitura é forte e as palavras não são medidas. Começam num dia comum na vida de um garoto, que ainda criança, enche os bolsos de fita k7 com sons de raps típicos de seu país e sai para passear. Nunca mais volta para casa. E tão longe que está distante até hoje.
O relato do garoto, mesmo revisto, é repleto de erros de expressão, que ele não teve tempo de aprimorar, enquanto fugia da morte.
Um livro que não tem nada de romance, tem tudo de vivência e é forte sem ser enjoativo. Apesar de dolorido, é gostoso de ler. E mais do que isso, necessário.
Vale a pena conhecer a história do garoto que teve tudo contra si mesmo e fez algo em prol de si mesmo e do seu país. Se formou bacharel em ciências políticas e participa de diversos congressos sobre crianças afetadas pelas guerras, apesar de não imaginar que estaria vivo e tampouco que queria um escritor. É uma lição de vida por meio da literatura mais sincera que pode existir. A feita com o coração.

*Jéssica Balbino é jornalista, escritora e blogueira
www.jessicabalbino.blogspot.com
jessica@pocos-net.com.br

Um comentário:

  1. realmente um livro otimo! eu tenho e ja li.
    o rap influencia! ouvi fala desse livro atraves
    do cd do grupo a familia-meninos são soldados
    logo eu comprei o livro em um desses sebos da vida.
    otima indicação salve a todos amantes da leitura
    *Quem le encherga melhor!!!!

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