sexta-feira, 25 de março de 2011

Mundo Globalizado

Por: Alessandro Buzo

Muita coisa mudou do tempo do vinil.
Do tempo do Fanzine via carta social (R$ 0,01).
Era mais pessoal, você conhecia alguém e trocava fanzines, escrevia carta, tinha que ir no correio postar.
E a satisfação de receber uma carta, não tinha preço, o carteiro passar e te jogar na mão uma missiva, olhar o remetente e ver que venho de longe, de outros estados, ou mesmo de uma outra quebrada de SP.
Troquei carta com pessoas que até hoje estão na luta, a Landy (hoje esposa do escritor Sacolinha), o proprio Sacolinha, Elizandra Souza, Dimenor do Bristol, Dudu de Morro Agudo (Enraizados), Dexter (Exilado), Walter Limonada, Billy (Penapolis) e tantos outros, até do Mano Brown eu já recebi carta.
Era sempre uma satisfação quando chegava uma, os anexos, a carta escrita a mão, mostrava nas palavras a personalidade e atenção da pessoa, bem diferente do email.
Hoje no MUNDO GLOBALIZADO é tudo mais fácil, rápido e pratico, mas perdeu o pessoal, ficou tudo com cara de spam.
Você recebia um Flyer de um evento, era quase uma convocação pra guerra. Hoje chega 30 por dia no email, MSN (nem uso), Orkkut (nem tenho), Twitter (@Alessandrobuzo), Facebook (Alessandro Buzo)..... mas vc é só mais um dos "SEGUIDORES" a receber, ou está no Mailling de alguém.
Tem muito grupo de Rap que não acompanhou a modernização e paga caro por isso, hoje é tudo on line (até os contratantes).
Eu como sou nego véio, criado quando as ruas do Itaim Paulista era de terra (Salve Rua 5 no Jd Olga onde cresci), comendo pastel na feira e jogando bola nas vielas.
Beira de campo, me tornei um centroavante goleador, todos diziam que era CAGADA, mas todo jogo eu deixava um Gol pelo menos.
Puta saudades de pessoas, lugares, cenas que ficaram na memória.
Triste lembrar dos vários que ficaram pelo caminho.
Me chocou muito um mano chamado Pardal, que jogava bola junto e da fuga com uma mobilete roubada, com a ROTA na bota, bateu de frente num onibus e morreu.
Infelismente foram vários que cairam na truque do sistema, foi pro arrebento pra ter uma moto, um tenis da NIKE, uns pano da moda.
Quantos outros não desandou nas drogas (eu cai e voltei). Mas outros foram até o final (cadeia, morte ou simplesmente ficaram tirados de nóia).
A droga ainda (cada vez mais) está em alta na quebrada, muitas MENINAS (fato raro no meu tempo) tão nessa, muito moleque de 14, 15 anos perdendo a vida, saúde e tempo com alcool, drogas e modinhas.
Cola quinta e sexta a noite, em frente a Casa de Cultura do Itaim Paulista e vai ver do que eu tô falando, jovens sen conteúdo e o pai, mãe....onde estarão.
Cada um cada um, mas nos dias de hoje, onde os pais ficam 12 horas fora de casa, entre trabalho e condução, os filhos estão crescendo sem rumo.
No meu tempo a polícia descia a Rua Cinco e só o cheiro de maconha na mão rendia uma delegacia e se bobear ainda assinava um 16 sem flagrante, só o cheiro. Isso na década de 80. Mas foi nos anos 90 que eu caí, não fiz vestibular na maconha, fui direto no pó, cheirei muitas carreiras por uns 6, 7 anos. No fim da minha carreira de drogado eu fumava mesclado (maconha misturado com crack).
Graças a Deus, tive forças de sair, de dizer Não.
Importante nesse processo, ter me apaixonado pela minha esposa Marilda Borges (esse ano são 13 anos de casamento e ainda estamos em lua de mel), o Hip Hop e a Literatura.
Casei em 1998 já livre das drogas e do cigarro. Ou o cigarro foi pouco depois.
2000 então, quando meu filho nasceu, e lancei meu primeiro livro. Fui teletransportado pra outro mundo, da cultura e dois pai que não abandona, corre junto com o filho.
Minha vida hoje é 100% Literatura e Hip Hop. 100% Família. 100% amigos verdadeiros (poucos) e camaradas (vários).
Claro que não tô de chapéu e vejo uma pá de invejoso, que pobre tem que morrer pobre. Porque você progride um tantinho e já vem zé porva crescer o zóio.
Mas fé em Deus que ele é justo, cada um paga pelos seus pecados.
A rua cobra também, então papo reto não faz curva e mantem a conduta.
Eu ando hoje (a trabalho) por várias quebradas desse país.
Me orgulho de mostrar partes dela na TV onde tenho um quadro no Manos e Minas da TV Cultura.
Me orgulho de ser "referência" pra quem me acha referência, meu orgulho dos meus livros, do meu filme, de tudo que eu faço, mas sem esquecer nunca da onde eu vim.
Sou favela até depois do final, se duvidar é só fazer o DNA.
Romantico sim, saudades do estilo malandreado dos anos 80, das cartaz com fanzine sim.
Mas ligado no 220 nos barato atual também, nos email, blogs, twitter, facebook e o que mais vier ai pela frente. Vamos escrever livro, fazer filme, usar as tecnologia sem deixar elas nos usar.
Prezo mais 3 mil amigo do FACE, outros 2 mil e tanto do Twitter.
Mais ainda os que aparecer no mundo real, quando menos se espera o @sempreandre vira o ANDRE VASCONCELOS no Sarau Suburbano, o @criadasruas vira o gente boa do VATO.
É isso. Mundo Globalizado, mas sem perder a ternura jamais.

www.buzo.com.br

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