quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Entrevista com Jéssica Balbino de Poços de Caldas-MG (Especial colunistas)
Quem é a Jéssica Balbino ?
Nossa, é tão difícil fazer uma auto-definição! Uma pessoa que gosta de pessoas, de sentimentos, de coisas positivas. Jornalista, escritora, palestrante, urbana, guerreira, batalhadora. Apaixonada pela vida, pela família e pela cultura.
O que é literatura pra você ?
É tudo. É ar, é inspiração, é alento, é vida, é cultura, é alimento para a alma, é o caminho para libertação.
Porque virou colunista desse blog ?
Porque sempre que eu escrevo um texto e acho que fica bacana, mando para o Buzo perguntando se ele pode publicar e agora ele me passou um fumo dizendo que o espaço é nosso, pra eu ficar a vontade e que eu poderia ser colunista. Tô muito feliz com o convite e nossa, escrever também é alimento para alma, desabafo.
O que você faz no dia a dia ?
Leio e escrevo. Escrevo e leio. Trabalho como jornalista no Jornal Mantiqueira (www.mantiqueira.inf.br), um diário da minha cidade. Mantenho o blog Cultura Marginal (www.jessicabalbino.blogspot.com), faço resenhas de livros para sites sobre literatura, sou assessora de imprensa do grupo de rap U>Clanos (www.myspace.com/uclanospeloscanto) e pesquiso para fazer um livro-reportagem sobre literatura marginal, além de ser palestrante em escolas, onde falo sobre hip hop e jornalismo e atuar como voluntária em oficinas sobre literatura e também no projeto Passa Livros, que distriu livros gratuitamente a quem não tem oportunidade para comprar, fazendo o saber circular.
Onde e como você conheceu os livros ?
Foi logo na infância. Sempre tive interesse por comunicacão, aprender a ler, escrever e meus pais foram em apresentando aos livros. Com cinco anos eu já adorava as primeiras histórias e antes de chegar nos 12 anos já tinha lido quase tudo da biblioteca da escola. Não parei mais, sempre li tudo sobre tudo. A melhor época para leitura foi quando trabalhei quase dois anos numa livraria.
Indique 3 autores que vc gosta de ler ?
Sérgio Vaz - porque ele é ácido e doce ao mesmo tempo. Porque as palavras são carregadas de sentimento
Sacolinha - porque é um mestre na trama.
Alessandro Buzo - porque é rápido, direto, ágil e luta pela verdade dos menos favorecidos.
3 livros ?
- Os sete minutos, de Irving Wallace, por falar sobre livro, censura e a busca pela verdade, liberadade e justiça.
- Graduado em Marginalidade, de Ademiro Alves (Sacolinha), por ter me marcado muito enquanto Literatura Marginal e meu ingresso nesse mundo maravilhoso.
- Trilogia Millenium de Stieg Larson, por falar sobre jornalismo, política, máfia e literatura em tramas envolventes, que nos fazem parar para pensar na podridão e em como temos que ser heróis no dia-a-dia para sobreviver a este massacre.
Fale de onde você mora ?
É como qualquer outra periferia: marginalizado. Como diz o André Ebner: falta de tudo menos igreja, droga e bar. Um local esquecido e toda vez que eu digo isso, sou chamada atenção. Mas tem problemas com saneamento básico, saúde e educação. Livros são raros e só circulam os do projeto Passa Livros.
O que acha de livros que viram filme ?
Alguns permanecem fiéis, outros nem tanto. Porém, acho que tem dois lados. Muitas vezes os filmes estimulam a venda dos livros e algumas outras pessoas se interessam. Entretanto, podem tambem desistimular o interesse pela leitura uma vez que o vídeo é mais 'atrativo' num lugar onde as pessoas não tem o hábito da leitura. É complicado, mas, acho que cinema também é cultura e quando traz livros no roteiro, podem ser muito interessantes para quem não tem acesso. Como sou cinéfila, adoro tanto livros como filmes. Tudo é conhecimento.
Um filme ?
Um só? rsrs* Cidade de Deus, porque querendo ou não tem fotografia, tem enredo, tem história, mesmo não sendo fiel a obra do Paulo Lins.
Como foi estar entre os autores do livro "Pelas Periferias do Brasil"?
Foi maravilhoso! É um marco na minha vida, o famoso 'divisor de águas', porque foi através do convite para a coletânea que conheci pessoas incríveis, fiz contatos e entrei, para sempre, no mundo da produção cultural na periferia. Foi também a oportunidade de retratar a periferia onde vido para todo Brasil e levar um pouquinho de Minas Gerais para dentro de um livro, uai ! Mais do que isso, foi maravilhoso trazer para minha quebrada as vidas e textos de tantos autores feras e poder trabalhar tantos textos interessantes nos projetos dos quais participo. Uma oportunidade única que eu só tenho a agradecer ao Buzo.
Porque o povo brasileiro lê pouco ?
Porque a elite não deixa. Porque há o estigma. Porque até pouco tempo atrás nada havia sido produzido por iguais ( o povo). Porque o livro continua sendo cara para quem vive abaixo da linha da pobreza e sequer tem o que comer, porque náo é interessante que o povo tenha cultura. Porque falta interesse. Faltam políticas públicas. 'Quando mais ignorantes, mais fácil de serem dominados' a elite pensa e age assim e sem ler, o povo, infelizmente, não consegue ver. Mas a situação está mudando.
Fale do seu livro ?
Em 2006 escrevi, em parceria com a jornalista Anita Motta (em memória) o livro Hip Hop - A Cultura Marginal 'do povo para o povo' como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para obtenção do título de bacharel em jornalismo. Falamos sobre como o hip hop surgiu, como chegou ao Brasil, como chegou na nossa quebrada. Qual a influência, como age na vida das pessoas, o que ele representa e como ele pode ser o ponto chave para mudanças de vidas. Valorizamos cada personagem e historia individual dentro da cultura. Foi feito de forma independente e hoje está disponível para download gratuito no meu blog (www.jessicabalbino.blogspot.com). Foi muito prazeroso fazer o livro e hoje ver como ele pode beneficiar outras pessoas, sem falar que depois dele posso afirmar também que 'o hip hop salvou a minha vida', pois foi aí que entrei de vez no mundo da literatura periférica e da produção cultural na periferia.
Conhecimento (Livros e filmes) é o 5o elemento do Hip Hop, o que vc pensa sobre isso?É isso mesmo. Quando o Afrika Bambaataa batizou os elementos (DJ, MC, B.Boy e Graffiti) como sendo hip hop, o fez com o objetivo que trouxesse paz, amor, diversão e união. Com o passar dos anos, essa questão incial foi se perdendo em meio ao gangsta rap e chegou num ponto em que as pessoas (até mesmo quem vive nas periferias) não consegue diferenciar hip hop (cultura) e rap (música), então, o Bambaataa batizou este quinto elemento, o conhecimento como parte da cultura. Foi fundamental. Sem conhecer, como podemos fazer e propagar? Hip hop não pode ser se não tiver sabedoria por trás, conhecimento, como vamos levar adiante?Então, acho que tudo está englobado nesta cultura de rua, marginalizada e que continua com os mesmos propósitos e objetivos. Hoje, tudo está interligado e é muito bom ver o crescimento desta produção cultural. Acho triste a briga entre alguns adeptos sobre o que é ou não elemento. Na minha opinião, se a manifestação nasceu na quebrada e traz paz, amor, diversão e união é hip hop. Pronto.
Considerações finais.........
Uai... quero dizer que é muito bom poder ser colunista do blog, fazer o que eu mais gosto (escrever) e poder continuar lendo, conhecendo novos escritores, novos produtores culturais. Dizer também que estou sempre à disposição para somar nos projetos feitos pelas galeras de todo o Brasil e que é sempre bom falar de hip hop, de literatura, de produção cultural, de vida na perferia. Quero também pedir que quem tem material novo, que entre em contato comigo, além de poder divulgar, me ajuda muito no trabalho que desenvolvo em oficinas voluntárias. Mais sobre meu trabalho pode ser conferido no meu blog www.jessicabalbino.blogspot.com e no myspace www.myspace.com/jessicabalbinoh2 No mais, é nóis que tá: a vida ensina e o tempo traz o tom !
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