Por: Gilponês (Gilberto Yoshinaga)
* Texto reproduzido do Site: www.centralhiphop.com.br
Quando o hip-hop "fisga" um novo adepto, geralmente o processo costuma ser o mesmo: a pessoa (muitas vezes, ainda criança ou adolescente) se impressiona com a manifestação artística que vê ou ouve e deseja fazer o mesmo. Fica fascinada com os traços mágicos de um bom graffiti, os movimentos acrobáticos de algum b.boy ágil, os riscos hábeis de um DJ ou as rimas certeiras e inteligentes de um MC. Tal encanto costuma ser arrebatador!
Daí a querer fazer parte da cultura hip-hop, tudo ocorre de forma rápida. "Entrei pelo seu rádio, tomei, cê nem viu", diria Mano Brown, no caso do rap. E o novo "convertido" pelo hip-hop passa a querer seguir os passos do DJ, MC, b.boy ou grafiteiro que o inspirou. Compra roupas, imita os trejeitos, aprende (ou aperfeiçoa) o "dialeto das ruas", enturma-se com outros adeptos e... continua faltando alguma coisa.
Os que "vencem" no hip-hop não possuem só o dom ou talento, qualidades que, em muitos casos - na minha opinião -, nascem com a pessoa. Acredito que existem os predestinados no hip-hop, pessoas que nasceram para cantar, tocar, dançar ou grafitar, e que não seriam capazes de fazer nenhuma outra coisa tão bem quanto tais expressões artísticas. Alguns raros privilegiados, mais iluminados, nascem com mais de um destes "dons" altamente desenvolvidos.
Mas não é só de talento que brota o hip-hop. Para quaisquer das quatro manifestações mencionadas, é muito importante que o conhecimento (o "quinto elemento") esteja presente. Para tanto, é preciso estudar, adquirir e aperfeiçoar habilidades, buscar segundas e terceiras formas de enxergar e viver a arte, trocar experiências, compartilhar conhecimentos... Esse é o combustível que alimenta o hip-hop e o faz desenvolver-se e evoluir.
Porém, é preciso reconhecer que nem todos no hip-hop serão MCs, DJs, b.boys ou grafiteiros. Nem todos os adeptos terão qualidade para passar pela peneira, cada vez mais rigorosa, de tais manifestações artísticas. E, mesmo numa suposição utópica de que todos tenham talento à altura, nunca haverá espaço suficiente para todos os milhões de jovens brasileiros que sonham em viver do hip-hop, seja cantando ou tocando rap, dançando breaking ou fazendo graffiti.
Com a consolidação da cultura hip-hop, o profissionalismo se faz cada vez mais necessário, em todos os sentidos. E esta nova realidade exige que, além dos agentes artísticos, a cultura de rua também tenha seus próprios profissionais em outras Areas. Infelizmente, poucas pessoas perceberam isso.
O hip-hop brasileiro precisa, também, formar seus próprios engenheiros de som, designers, coreógrafos, cenógrafos, maestros, figurinistas, estilistas e produtores culturais. Precisa de jornalistas, escritores, cineastas, fotógrafos, relações públicas, profissionais de marketing e assessores de imprensa. Acima de tudo, o hip-hop precisa de advogados, administradores de empresas, economistas, professores, pesquisadores, historiadores e até parlamentares, entre inúmeras outras funções.
Para combater o tal "sistema" não é preciso ignorá-lo, mas sim usá-lo a favor dos princípios em que se acredita, ou seja, tomá-lo de assalto - no melhor sentido da palavra, segundo o conceito da verdadeira malandragem (estudar e trabalhar). E, com mais de duas décadas de existência no Brasil, o hip-hop não pode mais se portar como criança ingênua e birrenta, que recusa a mamadeira mas não quer aprender a usar talheres. A maturidade exige profissionalismo e isso se faz com seriedade, qualificação, conhecimento de causa e jogo de cintura. Enquanto agir de forma amadora, o hip-hop nunca será levado a sério como sempre desejou.
Alguns agentes do hip-hop já perceberam que nem todos serão MCs, DJs, b.boys ou grafiteiros. Estão atentos à importância de trabalhar o verdadeiro sentido da palavra profissionalismo, sem que, para isso, tenham de vender suas almas, prostituir seus ideais ou jogar no time oposto - como fazem uns poucos pseudo-profissionais do jogo. Outros ainda se alimentam da ilusão de que o mundo só precisa de quatro - e não cinco - elementos para buscar melhorias.
No rap, no breaking ou no graffiti, o conhecimento é o elemento mais importante para que a cultura de rua alcance sua ascensão e o tão desejado reconhecimento/respeito. Nessa ´guerra fria´ do século XXI, "o estudo é o escudo", como bem versou o poeta GOG. Além disso, também é bom frisar que nem todos serão generais. Palavras de mais um soldado...
PAZ a todos/as!!!
quinta-feira, 29 de abril de 2010
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