quinta-feira, 1 de abril de 2010

RESENHA do filme "Profissão MC"

O autêntico filme da periferia que mostra as consequências de cada caminho escolhido
por Jéssica Balbino

Animação, ginga, malícia, empolgação, improviso, energia, rimas e poesia. Estes são alguns elementos encontrados no primeiro filme de Alessandro Buzo.
Filmado pela DGT filmes, com a parceria de Toni Nogueira, o filme de 52 minutos foi feito sem captar um único real e traz cenas do cotidiano do bairro Itaim Paulista, bairro periférico de São Paulo.
Quem assiste tem a sensação de estar “em casa”. Como acredito que o universo é uma grande periferia, me sinto esparramada no sofá de casa quando observo o futebol de várzea jogado no campinho, a biqueira em formação, o trem cortando a linha freneticamente e o pessoal que lava carro no semáforo.
A cerveja vendida no bar do filme tem o mesmo gosto da que eu tomo na esquina de casa, num buteco semelhante.
A história protagonizada por Criolo Doido, que na ficção leva este mesmo nome, é uma viagem a um relato humilde e verdadeiro dos problemas diários, de vários manos, por todo país.
Com a mulher grávida, ele sai de casa a procura de um emprego e numa esquina, depara-se com dois caminhos distintos: pode ser mais um a entrar para o tráfico e fazer uma fortuna rápida e passageira ou pode investir na carreira de rapper, valorizando as rimas que faz com propriedade.
Num lugar onde as pessoas morrem até por R$ 1, as câmeras levam o espectador para dentro da realidade do Brasil: jovens que sequer sabem ler, mas que fazem as contas das vendas da biqueira como ninguém, crianças que vêem no traficante o verdadeiro padrinho da quebrada, mulheres que se aliam ao crime para sobreviver e ter um filho em paz !
Entretanto, nem sempre a paz é aliada dos que vivem nos guetos. Entre os becos e vielas, as oportunidades parecem desiguais e o caminho mais fácil nem sempre é aquele que o rap apresenta.
O filme é uma inovação no cinema nacional e na criação cultural da periferia. Apesar da falta de recursos, as pessoas que atuam- mesmo os que o fazem pela primeira vez – dão um show diante das telas e uma crônica do cotidiano se desvela aos olhos de quem aprecia a produção.
Para os que desconhecem – ou ignoram – o gueto, esta é uma excelente oportunidade de enxergar o que temos de bom e de ruim e como nossas pessoas são humanas.
Há ainda uma função sócio-educativa, mostrando as consequências para cada caminho escolhido e aos jovens das quebradas brasileiras que assistem fica a mensagem que o hip hop pode ser um caminho e que independente dele, vale a pena acreditar nos sonhos!

Jéssica Balbino
Jornalista, escritora e apreciadora do hip hop !

Um comentário:

  1. Realmente Jéssica o Hip-Hop nos dá a voz da periferia entrar na cultura de um país como o nosso onde as oportunidades são poucas ou só são para poucos.
    valeu pela resenha.

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