domingo, 27 de junho de 2010

O coronel de ferro

Por: Samuel da Costa
samueldeitajai@yahoo.com.br


" Eu vi quando um soldado recebeu ordens para comer que nem um cão embaixo da mesa do refeitório, enquanto que outros se divertiam com a cena degradante. "
João Carlos Pereira

Sentado confortavelmente em sua poltrona, o coronel Moreira César sente que alguma coisa está errada. Um sentimento que o acompanha de uns alguns tempos para cá, Moreira César era filho e, neto de policiais militares. Mas as coisas estavam mudando, e mudando muito por sinal. Prova disso era o despacho que recebera do estado maior há alguns dias, o coronel da cidade vizinha estava pedindo um reforço no efetivo. Os tecelões de Blumenau estavam ameaçando deflagrar estado de greve a meses. Ter que dispor de parte de sua tropa, já escassa, para resolver os entreveros de outra cidade era um problema. E greve era outra coisa que Moreira César também não engolia, e permitir que trabalhadores pudessem fazer greve, era mesmo o fim dos tempos na visão do coronel.

– Aquele preto safado, tinha que desfalcar minha tropa! Diz Moreira César de si para si mesmo. Ver um negro ascender ao posto de coronel, era outra coisa o ‘’Coronel de ferro’’ também não aceitava. E ao abrir uma gaveta e acender um charuto em meio aos devaneios, que o Cabo Silverinha adentra na sala, sem ser anunciado, o obrigando a apagar o ‘’Havana’’. A ordenança assim procedia como um código pré–estalecido entre ambos. E sempre que assim a ordenança procedia, havia problemas a vista.
– O que foi Cabo? Pergunta o coronel fingindo despachar, olhando para a mesa de mogno. O coronel, não se deu ao trabalho de olhar para o subordinado. Era um silêncio constrangedor que reinou na sala, e em posição de sentido diante do superior, o cabo Silverinha se manteve calado. Foi o suficiente, para o "Coronel de ferro" se levantar, e ir até a janela da sua sala de trabalho. Lá embaixo, a visão de novos recrutas em formação, deixará o "Coronel de ferro" apreensivo: – Uma nova geração de soldados, direito à greve, coronel negro, aonde as coisas vão parar meu Deus. Diz o Moreira César de si para si mesmo.
– Quero o relatório na minha mesa ainda hoje cabo! Sentenciou o coronel para a ordenança, que se retira após "bater os cascos".

Samuel C. da Costa é contista em Itajai - SC

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