sábado, 24 de julho de 2010

Linguagem e Exclusão

Por: Jose Carlos de Alcantara
josecarlospeu@ig.com.br

“Tem alguma coisa estranha no jeito como você pronuncia as palavras.
Você é nordestino?” – Essa pergunta me foi feita por uma amiga numestágio. A minha esposa, também costuma rir de algumas pronúncias queela diz serem muito arrastadas.
É somente natural que eu carregue o sotaque nordestino na maneira de pronunciar algumas palavras.
A minha família é natural do município de São Lourenço da Mata, em Pernambuco,e veio para o Rio de Janeiro quando eu tinha apenas dois anos deidade.
Criado por pais nordestinos e rodeado por tios, tias esobrinhos com o jeito nordestino de falar, era inevitável que em algumas palavras as minhas origens se fizessem mais presentes do queem outras.
Notamos que os grandes grupos culturais, mesmo dentro de um mesmo país, diferenciam-se e isolam-se em suas relações.
Os signoslingüísticos de maneira geral refletem as diferenças e desmascaramdomínios de códigos dispares. “Apesar de pertencermos a uma mesma‘comunidade semiótica’, há uma diversidade de domínios lingüísticosdevido à diversidade das várias regiões que compõem o territóriobrasileiro, onde predominam linguajares com suas características próprias.” (FERREIRA, 1999)
Tratando especificamente da linguagem oral, é inevitável nãopercebermos a linguagem como porta-voz da exclusão.
As pessoas que vão das zonas rurais para os grandes centros urbanossão geralmente encarados como miseráveis, despreparados, sem cultura,muitos chegam a dizer que tais pessoas ‘nem sabem falar’. É como se aforma como tais pessoas falam não possui valor algum já que não falamcomo ‘nós’.
Deste ponto até a generalização é apenas um passo.Qualquer pessoa que não fale como os citadinos das grandes cidades do Sudeste, o padrão lingüístico para o restante do Brasil, são logo acomodados em grandes grupos tais como ‘paraíbas’, ‘baianos’,‘mineiros’, etc.
Notamos, também, que os sotaques das regiões mais aosul são apenas exóticos, enquanto os sotaques das pessoas do Norte eNordeste são tratados não apenas como exóticos, sendo bastanteestigmatizado.
A linguagem, cada vez mais, tende a excluir pessoas que estão forados seus grupos culturais de origem e não dominam os códigoslingüísticos do grupo cultural que visam integrar-se, o grupodominante.
Mas, a linguagem, deveria servir para a união dos homens enão para a exclusão.
Este é o desafio que, mais do que nunca, se nos apresenta.

Bibliografia: Ferreira, A. P. O Migrante na rede do outro.
Ensaios sobre alteridadee subjetividade. Rio de Janeiro/Belo Horizonte: Editora TeCorá, 1999.

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