terça-feira, 20 de julho de 2010

Matéria da discordia do Jornal "O Estado de S.Paulo" e alguns textos respostas.....

À procura da saída perfeita
A música que há 30 anos representa milhares de jovens da periferia vive uma crise. O rap perde espaço em shows e começa a repensar ações

Por: Julio Maria - O Estado de S.Paulo
A música que sai alta de uma casinha no miolo do Capão Redondo só tem refrão. Os meninos do campo de terra à frente não estão incomodados e dizem que aquilo ali é funk, o novo som da região. "O funk tá dominando", diz o garoto que se identifica como Rodriguinho, 15 anos. Ao falar por sua região, é como se falasse por uma cidade. O Capão tem 215 mil habitantes dos quais apenas 9% chegam a uma faculdade e 16% leem algum jornal ou revista. É também a área de Mano Brown, líder do principal grupo de rap do País, os Racionais MCs. Se o funk chega chegando, como se diz no meio, também é porque alguma coisa acontece com aquilo que foi por quase três décadas a música oficial dos bairros da periferia, o rap.
Os garotos do rap em geral não gostam do que chamam de alienação funkeira. Dizem que fazer funk é fácil, difícil é rimar com conteúdo. Os funkeiros, por sua vez, não alimentam ódio pelos rappers. Estão mais preocupados com aquela garota de shortinho ali na beira do palco. E um contingente populoso de jovens, tanto os que fazem quanto os que ouvem os sons da periferia, assistem a uma virada silenciosa na música que os representa. Se o funk começa a recrutar seu exército teen (leia abaixo), o rap encolhe e é obrigado a repensar suas posições.
Um show na Virada Cultural de 2007 deixou as coisas mais difíceis para o gênero. Durante uma apresentação dos Racionais na Praça da Sé, homens da Polícia Militar entraram em confronto com o público. A PM disse que foi provocada, os rappers também. A Virada daquele ano acabou marcada por cenas de batalha. Não houve mortos, mas o rap pagaria a conta em longas prestações. O gênero não ocupa mais palcos exclusivos em eventos públicos desde então e o que era só estigma virou monstro. "Antes disso rap já era o gênero mais estigmatizado do País", diz o MC e produtor Rodrigo Brandão. "A gente sente um boicote", fala o rapper Afro-X.
Lamento. O choro não é em vão. José Mauro Gnaspini, responsável pela Virada Cultural e por outros eventos ligados à Prefeitura, conta que a contratação de shows de rap por parte da Secretaria Municipal de Cultura foi de fato trocada por outras manifestações, como o grafite e espetáculos com dançarinos de hip hop. Suas lembranças de 2007 são em tom de lamento. "As chances do público de rap são raras e esses jovens precisavam de um show grande como aquele." Ele conta que tentou reverter o saldo negativo criando um novo palco na Virada de 2008, mas o que viu foi mais segregação. "A polícia veio com revista corporal, cachorros, detector de metais. Eu queria fazer um desagravo mas, sem querer, segregamos mais."
A crise do rap conta com outro agravante. Uma parte do público, sempre mais disposta a pichar muros do que curtir o som, tem disparado contra o próprio pé. O episódio mais recente foi durante o renomado festival Indie Hip Hop, no Sesc Santo André, em dezembro de 2009, quando paredes e banheiros da unidade foram depredados. Saldo da farra: o festival realizado ali por 10 anos e que trazia grupos internacionais a preços populares acaba de ser cancelado, segundo o responsável pelo evento, Rodrigo Brandão. "É oficial, não faremos mais o festival." O Sesc, procurado pela reportagem, não se pronunciou. "É o caso de gente de dentro (do rap) que dificulta o trabalho de quem quer levantar essa estrutura. A coisa se tornou indefensável." O efeito-cascata fecha portas em outras unidades, que já pensam duas vezes antes de trazer suas atrações.
O clima com os policiais também não é dos melhores. Os rappers acusam a PM de aumentar a truculência, algo como uma forma de responder às provocações colocadas em letras como Otários Fardados, dos Racionais. A plateia sente tratamento diferenciado, como as revistas corporais feitas apenas na área do rap durante a Virada de 2008.
A Polícia Militar enviou uma nota à redação em que de fato revela cautela quando o assunto é rap: "Infelizmente há histórico de sérios problemas de comprometimento da ordem pública em shows públicos de rap, provocados por algumas pessoas, trazendo grandes prejuízos à sociedade e à incolumidade pública. Por esse motivo, há sim um componente extra no planejamento operacional de policiamento desses eventos." O texto segue falando, em tom raro, do clima entre rappers e policiais: "São comuns provocações aos policiais escalados nesses shows, mas isso não é um problema para o emprego do policiamento (...) Essa postura dos policiais em não considerar provocações é algo treinado desde os cursos de formação." E termina com uma espécie de alerta. "A apologia ao crime não pode ser desconsiderada. Caso uma pessoa ou grupo de pessoas passem a exaltar ou praticar ações ilegais durante o evento, o efetivo de serviço é obrigado a adotar providências com a prisão em flagrante dos envolvidos." E é aí que o show pode virar um campo de batalha.
Dureza. Uma ala do rap não acredita que o discurso antissistema, que já dura quase três décadas, tenha de mudar para que a música retome seu espaço, por mais que muitos jovens estejam migrando para o funk em busca de descontração (leia abaixo). "Temos que protestar sempre, ainda tem muita criança dormindo com os ratos", diz PX, do NSN. Em entrevista ao Jornal da Tarde, em 2006, Mano Brown resumiu o sentido da violência nas letras das canções. "E como você vai narrar uma história de des''igualdade social? Como o papa?"
Na visão de outros integrantes do movimento, esta pode ser também a hora da virada. "O mundo mudou e nós também temos de mudar. Agora sou pai de família. Tivemos de virar homens de negócio. Não adianta só cantar, temos de ter a visão empresarial", diz o rapper Nego Chic. Seu amigo Preto Will, do Versão Popular, fala de estratégias. "Temos de fazer R$ 1 mil virar R$ 2 mil e ganhar com o rap. Se a gente gastava R$ 800 para gravar uma música, gastamos hoje R$ 250 depois que aprendemos a produzir."
O rap pode virar empresa também quando o assunto é moda. A exemplo de outras marcas surgidas de núcleos rappers, como 1daSul e Fundão, os integrantes do NSN fazem dinheiro com a grife que criaram, a Guerreiro Nato. Os próprios rappers compram os tecidos, desenham as peças e as costuram, tudo dentro de um padrão de moda que, sabem, será vendido rapidamente entre seus parceiros. Uma camisa sai por R$ 30. Um agasalho completo, R$ 80.
O rapper Kamau, 34 anos, há 13 no rap, vê que a migração de festas com rap dos bairros mais afastados para regiões como Centro e Jardins pode ser outra alternativa. "É um outro público que frequenta ali, mas não deixamos de fazer o rap que sempre fizemos", diz. E desponta assim um novo dilema para os rappers que procuram a saída perfeita: enternecer sem perder a dureza. Diz Afro-X: "Não achamos mais que somos donos da verdade, mas se abrirmos muita concessão, logo vai ter rapper rebolando por aí."


RESPOSTA.....

Por: Alessandro Buzo
Li a matéria do ESTADÃO de ontem (sábado, 17/07).
Não acho que o RAP esteja em CRISE.......acho que é um momento de mudanças e amadurecimento.
O discurso gastou depois de 30 anos e temos que saber qual o caminho para continuarmos, mas é FATO que vai continuar.
O que afastou o público foi a rotina, show por exemplo, vc vai ver um show do grupo XXX que vc curte, começa meia noite, sobe 20 grupos antes e 5h, 6h da manhã vem então o que vc estava a fim de ver. Isso já era e acaba com qualquer público.
O Dexter em 2009 fez um show diferente, com qualidade. Vários convidados de peso, todos se apresentando num horário bacana, dentro de um espaço de 2 horas.....resultado, 4 mil pessoas lotaram a quadra da Peruche pra ver.
A matéria do Estadão focou no fim do evento Indie Hip Hop no SESC Sto André, mas nem citou que 1.000 pessoas lotaram nesta quinta (2 dias antes da matéria) o SESC Pinheiros pra Batalha do Conhecimento no Teatro Paulo Autran, que movimento em crise lota um teatro pra ver RAP numa noite de frio e de chuva, "disputando" ainda com show do 50 CENTAVOS em SP ??
Acho que para quem não soube dialogar com "todo" mundo, o RAP está mesmo em crise, mas pra quem trabalha com disposição, profissionalismo e dedicação, o RAP ta vivão e forte.
Vejo manos e minas cantando as letras nos shows recentes de Emicida, Projota, Rashid.....destaco ainda Kamau, MC Marechal e outros.
Organiza um mega show com nomes de peso e aposto como LOTA, mas falta confiança até entre nós mesmos.
Quanto a grupos que fizeram história no cenário e hoje estão sem espaço, acho que não souberam se reciclar, cara feia não da mais nada, não ter email, twitter, facebook, BLOG, site....é o fim no Século XXI. Não ter uma foto profissional pra mandar pra um contratante, não ter um release, isso tudo é o fim.
A matéria do ESTADÃO mostra um RAP agonizando e isso não é verdade.
Ninguém precisa fazer como nos EUA, onde gera milhões mostrando carro e mulher, existe espaço pro RAP se pregarmos a UNIÃO acima de tudo, fazer eventos de qualidade, no horário, sem desrespeitar nosso público.
Lembro quando comecei o meu evento FAVELA TOMA CONTA, já coloquei 18 grupos numa edição, hoje não cabe mais, são 5 atrações por edição e todo mundo trampa como deve ser, evoluir é preciso, mas sem perder a postura e o compromisso.
Acredito nos rappers que estão se renovando, trazendo coisas novas.
Esse ano o MINC criou o Prêmio Cultura Hip Hop, são 1 milhão e 700 mil em prêmios, vai dar um gás, outras coisas estão surgindo, vamos se ligar.
Mas se você é da ala pessimista, aproveita a deixa e deixa o movimento.........quem é o ESTADÃO pra falar que o RAP está em crise, quando eles deram espaço pra mostrar o RAP, se liga mano, isso faz parte de um processo pra enfraquecer nosso movimento e não podemos abraçar as idéias, temos que mostrar o contrário.
Alessandro Buzo
www.buzo.com.br

Vem ai o livro: HIP HOP - DE DENTRO DO MOVIMENTO (aeroplano Editora) de Alessandro Buzo, tudo que vc queria saber e não tinha pra quem perguntar.....perguntei para mais de 60 pessoas do movimento.


REPERCUSSÃO

Fala Buzo,
É isso aí irmão, concordo com você, quando li pensei exatamente no evento do SESC e outras paradas mais que temos visto por aí, como seu livro que está para ser lançado por exemplo. O texto está muito bom, direto, rápido e conclusivo. Parabéns......
Abs,
Toni Nogueira
por email

NO Twitter....@Alessandrobuzo

@BOCADOLIXORAP GUERREIRO .. GOSTEI DO QUE ESCREVEU A RESPEITO DA MATERIA NO ESTADÃO ... ELES SÓ QUEREM NOS ENFRAQUECER... KEEP STRONG!!!

@guetoemfesta acompanhando de fora! literalmente fora o gueto em festa é a prova viva de que a crise no rap é pra quem quer ela! fica com ela Estadão!
* Gueto em Festa é um programa de Rádio em Lisboa, feito por brasileiros e toca RAP de países que falam portugués.

Por: Crônica Mendes
cronicamendes@afamiliarap.com.br

Só quem é sabe.
Disse o jornal: "O rap está em crise."
Quem são eles para falarem de "nóis"?
E por que damos ouvidos a eles?
A idéia desse tipo de notícia é desestabilizar cada "um de nóis" que compõe essa cultura em movimento.
Digam o que disserem, só quem é sabe.
A crise é do jornal, pois a violência que eles esperam do rap, não está em alta.
O rap está cada vez mais desenvolvendo seu lado social. Organizando eventos beneficentes, articulando debates politizados, ampliando o conhecimento... fazendo o papel que é do ESTADO. O rap jamais deve perder sua essência, nunca pode deixar de falar da vida do povo, a vida de modo geral, para além da problemática do cotidiano.
Esse jornal, de direita, é claro, vive de notíciar mortes, politicos corruptos, fofocas... Tudo para manter o povo sempre na rédea, com o eslogam 'O Brasil não muda e a culpa é sua.' Querem mesmo é nos deixar em guerra, pois a guerra gera notícia. O "Hip Hop é VIDA", e a vida não traz polêmica para jornais, tais como este ai.
Por isso... paro por aqui.
Crônica Mendes
Nas periferias do Brasil, eu acredito.


Sobre o Estadão‏
Por: Mamuti O Poeta Glacial
mamuti.joao@gmail.com

Como pode o Estadão falar que estamos em crise, ainda mais nesse fim de semana em que foi postada aquela matéria?
Na quinta-feira (15/07) o RAP colocou no Teatro Paulo Autran lotação máxima. Vale a pena ressaltar que na quinta-feira em questão estava chovendo, que na quinta-feira em questão não tinhamos superastros no palco e que, na quinta-feira em questão o SESC continuou inteirinho.
Na sexta-feira (16/07) Ocorreu um evento no Vale do Paríba, em Jacareí, a Rua do Flow. Esse evento lotou uma casa que nunca havia cedido espaço para o RAP, e adorou o resultado. Era dificil andar na festa pois estava cheia, e era um clima bonito de gente dançando e curtindo o som. Que som? o RAP. Vale ressaltar que nessa sexta-feira em questão estava frio, e na mesma cidade estava tendo um show do Sucesso do carnaval, Parangolé.
Então, me diz. Como um "movimento em crise" consegue isso?
A matéria se baseou toda em uma afirmação sobre o SESC Sto André e Região terem sido depredados durante o Indie HipHop. O estranho é que o Indie aconteceu em Dezembro e até a data da publicação do vídeo do Rodrigo Brandão falando disso NINGUÉM TINHA FALADO PORRA NENHUMA. O Site Voz da Rua chegou a publicar uma matéria falando sobre esse fato. Sabe, a intenção não é por a palavra de ninguém em dúvida, mas se houvesse tão grande depredação naquela época vocês acham que eles esperariam 7 meses pra falar?
Cheguei a pensar que essa matéria foi publicada nesse fim de semana até que...propositalmente. Afinal, após eventos históricos alguém pode ter ficado com medo de crescermos demais, não é?
Mas prefiro não acreditar em teorias de conspiração. Vamos acreditar que seja só desinformação do autor da matéria.
Sendo assim, por que não começamos a convidar o Estadão pra todos os eventos de RAP, pra ver se eles se preocupam em aparecer pra constatar alguma coisa real, ao invés de ficar jogando afirmações sem conhecimento de causa.?
Paz pra nóiz!
Mamuti NusCorre O Poeta Glacial
http://www.myspace.com/NusCorre
http://www.myspace.com/Mamuti
http://www.vozdarua.com.br
NusCorre - Com as próprias pernas.

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