quarta-feira, 28 de julho de 2010

Quando me descobri poeta

Por: Fanti Manumilde

Quando me descobri poeta o choque foi imenso, um verdadeiro báqui, digno até de trauma psicológico, devaneios, viagens e outras coisas mais. O engraçado é que na hora não percebemos nada, só depois de um tempo é que nos damos conta das coisas, recapitulando os fatos, daí a ficha caí.
Acabou que a minha maior questão era onde eu havia estado este tempo todo? Como pode? Era o encontro comigo mesmo, o preenchimento de um vazio, até lembrei-me da música do Cartola,’ Preciso me encontrar’ pois é eu tinha me encontrado.
Aquele menino triste de outrora, sentado no canto da parede, agora corria, pulava por todos os lados, cantarolava feliz da vida. Parecia que eu voltava de uma longa viagem, trazendo malas pesadas, com fome, com sede, pés doídos querendo descanso, querendo alguém pra conversar e como se fosse um passe de mágica não havia mais cansaço, os pés não doíam mais, sem fome, nem sede. Pessoas gentis vinham ajudar com as malas, onde seus cartões de visitas eram belos sorrisos, não me sentia mais só.
Foi como visualizar um vale lindo, cheio de luz, multicolorido, repleto de amor e de esperança. Pomares alimentando a todos, crianças se serviam, lotando os galhos, outras chegavam todas molhadas vindas do riacho onde se banhavam, agora iriam matar sua fome.
Me senti igual a elas, livres de tudo, e o limite era a amplidão do firmamento que muito me encantava, um azul celeste, salpicado de dourado num lindo entardecer. Pássaros aos montes passavam cantando suas melodias, borboletas amarelas coloriam a relva, a coisa mais linda que os olhos podiam ver e como criança não se contém, eu queria correr pra pegar as borboletas, andar na grama descalço, também pular no riacho, comer manga, caju e graviola.
Quando me descobri poeta foi um renascimento íntimo, foi voltar no tempo, ser menino de novo, lembrar das coisas boas, tirar a poeira do coração amarrotado, adormecido, reacender as fogueiras de paixões esquecidas. Foi uma transfusão de amor infantil, de pureza, vacina de sensibilidade contra o vírus da tristeza, com certeza o colírio pro olhar que não queria enxergar as coisas pequenas e lindas da vida.
Foi um sussurro no ouvido dado pela pessoa amada, jurando amor eterno, não sei bem, mas as vezes penso estar dentro de um sonho, e se for um sonho eu não quero acordar tão cedo. Sem fugir da realidade é bem melhor, ainda mais quando conseguimos transformá-la através da poesia, é uma coisa jamais pensada; mudar o pensamento das pessoas em prol do bem comum e no final de tudo descobri que ser poeta não apenas fazer poesia, é ser poesia, como bem disse o poeta Sérgio Vaz!
É isso, é louco mesmo! Quando me descobri poeta moiou pro sistema, meus braços se tornaram invisíveis pras algemas deles e a minha mente recebeu a profilaxia que precisava pra livrar-se da alienação total imposta pra nós, quando me descobri poeta foi foda, foi um báqui.


FANTI MANUMILDE É POETA E MORA EM HELIÓPOLIS
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