terça-feira, 16 de março de 2010

Isso revolta qualquer um...........

domingo, duas horas da tarde. a galera se preparando pra macarronada, o futebol da molecada - que rodou diante do palestra - e eu lá, na minha escola. mais os meus companheiros: os estudantes. para a retomada. volta aos ensaios do teatro. "um por todos, todos por um". aos poucos, vão chegando. somando. um daqui. mais dois acolá. e mais outros. time quase completo. conversamos, trocamos idéia. primeira tarefa, pegar os materias de cena e cenário.

rodo número 01: ontem
a sala que era nossa, nunca foi. constatei. nunca será? não sei. não foi agora. o que achamos foi o lixão. explico: final do ano passado, pedimos uma sala na escola para guardar nossos materiais. do teatro. de cena e cenário. nos foi concedido. aprovado em reunião do conselho de escola. mas este ano teve uma nova - pequenina - reforma. consertos, pinturas. e qual sala liberaram para os pedreiros, pintores ficarem, usarem, e guardarem suas coisas? a nossa. sem pedir, sem autorizar. e o que era material de cena, virou lixo. o que estava guardada em caixas, virou lixo. o que eram R$ 400,00 reais de investimento, do nosso bolso, virou lixo. tudo o que tinha valor sentimental, foi jogado no chão. furtado. como se não fosse nada. sujo. respingado. pintado contra a vontade. largado. como se não tivesse valor. para o nosso grupo de teatro tinha. a galera da trupe ficou arrasada. não houve mais clima para ensaio. houve clima para revolta. tristeza, insatisfação. e comprometimento do espetáculo. talvez do grupo? não. da minha parte não. nóis enverga mais não quebra. e alguém há de pagar o prejuízo. ah vai.



rodo número 02: hoje
na quinta-série, mais um aluno. grande, alto. 14 anos. um gigante perto da molecadinha. quinze anos talvez. te juro, eu pensei: caraca, jogam um estagiário na sala e nem me avisam. não era. era outro aluno. veio de outra escola. e com aviso, de um menino da sala: professor, ele não sabe escrever. nem ler. puta-que-pariu, pensei. mais um, que não sabe escrever. junto com os outros três, dez, vinte, que estão na quinta-série e também não sabem. não aprenderam. e eu não sei ensinar. direito. não me educaram pra alfabetizador. a Academia não me ensinou. bosta, o que eles sabem disso aqui? e a turma de reforço, ainda não saiu. será que sai este ano. minhocas na cabeça, frustração me pegando. talvez.

rodo número 03: a noite
a conta, quase no vermelho. o aluguel ainda não foi pago. e tenho que fazer compras no mercado. o básico. preciso comer. não pego nem carrinho, vou na cestinha. hoje é metade do mês, não posso gastar mais de vinte reais para o básico. pra não estourar demais o orçamento. vou de cestinha na mão. uma bolacha aqui, um suco ali. um leite acolá. uma fruta. um pão e tal. e vou contando. porra, tá passando. e vou pegando. não o que quero, mas o que o dinheiro dá pra comprar. não o que o dinheiro dá pra comprar, mas o que estou precisando. não o que estou precisando, mas o que a contabilidade não dá no bolso. resultado: 12 produtos, trinta e cinco reais. tiro dois. três. trinta reais. posso? não tenho direito nem de escolher direito o que quero comer? que merda é essa?

rodo número 04: agora
sentimento de frustração. salário de merda, vida corrida, ânsia da luta e vários contra. vários bola fora. eu penso: quando o bicho pegar, não me chame. também estou sozinho. ou assim me sinto. ou assim estou. persistindo. com vários rodos. cotidiano. e tem hora que as pernas fraquejam. tem hora que dá vontade de quebrar. gritar já não basta. tem hora que dá vontade de correr. sabendo ainda que o bicho pega. não tem jeito. sento a bunda e escrevo. é o único jeito de passar o pano. aliviar os plano. nessa vidinha de merda que a gente não querendo leva. nesse rodo quase insano. cotidiano. que vamos levando.

o barato é mais ou menos assim...

FONTE: www.efeito-colateral.blogspot.com

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