sábado, 13 de março de 2010

A queima roupa

Samuel da Costa
Po: samueldeitajai@yahoo.com.br

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Raimundo Nonato Corrêa raramente sorria quando estava trabalhando, mas naquele dia seria diferente. Na opinião de Raimundo, a instrução era a pior parte de ser um policial militar. E de fato, se arrastar na lama e, entrar em tubos de esgotos e sentir o odor do gás de efeito moral lhe invadir os pulmões não era nada agradável. Os familiares de Raimundo, principalmente os mais velhos, não gostavam da ideia de ter um membro da família na ‘’volante’’. Por isso tinha certas coisas que Raimundo sentia, mas não se atrevia a fazer perguntas. O que sabia do passado dos seus, era que eles vieram do nordeste a tempos atrás, vieram para sul tentar vida nova. O que deixaram para trás, além da pobreza extrema, não o interessava, mas o incomodava e incomodava muito. Era um sentimento angustiante e, era só isso e nada mais. E naquele dia em especial, aonde o sol abrasador acima da cabeça de Raimundo parecia lhe torrar as ideias, as ordens do seu instrutor, suavam como música em seus ouvidos. Alguma coisa gritava em seu ser, um sentimento animal urrava na sua mente. Uma ideia fixa lhe invadia a mente.
– As senhoras hoje vão testar suas habilidades mais profundas! Os berros do sargento explodiam nos ouvidos por Raimundo, de repente um sorriso brotou na face morena do soldado.
– O que as senhoras e as senhoritas têm em suas mãos é um Fuzil Automático M964 FAL, calibre 7,62mm, uma peça genuinamente brasileira e, recém saída das caixas. E eu quero respeito, ao segurar esta obra de arte genuinamente brasileira. – Os soldados estavam todos sujos e com um zunido nos tímpanos, devidos aos diversos disparos realizados pela peça de artilharia. Ao se aproximar do soldado, Raimundo, o instrutor de tiro leva um susto. Além, de acertar todos os tiros, Raimundo, demonstrava um frieza de um atirador de primeira linha. Uma frieza que o sargento poucos vezes vira em seus muitos anos de instrução, principalmente em um aspirante. Raimundo, com toda a certeza, era melhor que ele com uma arma nas mãos. Isso não batia com os rumores que ouvira do restante da tropa, que Raimundo não fazia jus à farda que vestia. Ocupado em seus devaneios, o sargento não notara que soldado, Raimundo, coloca uma bala no bolso. Nesse momento um sorriso lhe brota na face.
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– Cabra safado...
Foi a última coisa que o soldado Carvalho escutou, após a bala de fuzil lhe atravessou a bochecha e se perder no vazio. E enquanto caia, veio à imagem em sua mente, da ordem que recebera do coronel Moreira Cesar: – Quero esse Paraíba fora da corporação secreta...
E assim foi feito, o promissor soldado Raimundo Corrêa sofreria uma serie de injurias e pequenas provocações. Levados ao extremo, no passar dos dias, semanas, meses e por fim de um ano. E em certas regiões do Brasil, uma ofensa pessoal se resolvia a bala. E um tiro na cara, era a forma de revidar certas ofensas de cunho pessoal em certas regiões do Brasil. E naquele sete de setembro, com sua costumeira saudação à bandeira. Com toda a corporação perfilada, Raimundo Corrêa sentido o sangue ferver. E dando vazão a todo o seu ódio acumulado, se vira para o soldado Carvalho ao seu lado e lhe aponta o fuzil carregado. Tinha que dar um tiro na cara ‘’do cabra safado’’ na frente de todos...

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