quarta-feira, 24 de março de 2010

Uma questão de orgulho

Por: Samuel da Costa
samueldeitajai@yahoo.com.br


Talvez falar em orgulho negro na atualidade seja difícil, assim como debater o dito orgulho branco, pois é só relembrar- mos que um pouco mais de meio século, assistimos a ascensão e queda de um império que deveria durar mil anos. Ao contrário disso o mundo pode assistir o massacre indiscriminado de judeus europeus, entre outras minorias, no que alguns nominaram de ‘’Solução Final da Causa Judaica’’ ou simplesmente Holocausto. Mas o que isso tem haver com os dias de hoje e com o Brasil? Apesar da guerra perdida no campo de batalha bélico, o legado de supremacia ariana nos assombrar, e assombrar muito. O padrão de beleza posto e imposto, por muito tempo, não só no Brasil, bem como no ocidente não seria se os belos olhos azuis e a linda pele branca? Mas o que sobrou para as minorias de poder? Mas quem são essas minorias senão fantasmas a esgueirar-se na sub-cultura, no sub-esporte, na sub-arte e no sub-emprego, com sabedoria de quem a muito aprendeu a apanhar e se destacando a duras penas. E todos os orgulhos, não brancos, quando se afloram, uma torrente de criticas negativas vem à tona, por parte de setores conservadores da sociedade. Mas o que é ser descendente de escravos no século XXl? Talvez rezar para não ser parado pela polícia, de noite ou de dia, e ser confundido com um bandido qualquer. O que é ser negra nos dias de hoje? Talvez ser o últimos personagem nas estatísticas do IBGE e despontar em índices como: alfabetismo, baixos salários entre outros. Mas o que sobrou para a elite branca senão os melhores cargos na dita democracia burguesa. Ocupar as melhores posições em tudo e, em toda a parte, e se esgueirar em uma linda tarde de sol de verão. Aparecer bem e sempre e em tudo a hora com sorrisos brancos e bem tratados em comerciais da teve. E ao que sobrou para as minorias étnicas? Creio que não muito, pois ainda estamos aqui em algum lugar no porão da sociedade a protesta em votos nulos. Gritando e berrando, para quem não quer nos ouvir, por espaço nesse dias da comunicação global, nesse dias de presidentes negros e bilionárias apresentadoras de televisão. Sobre um olhar, inquisidor e colonizado de quem quis nascer no norte do globo, falando um idioma estrangeiro. Mas o que restou para as crianças negras senão empinar pinas ou soltar foguetes nas favelas. O que sobrou senão um divida social de 500 anos e certas elites arianas não estão nem um pouco a fim de pagar.

Por: Samuel da Costa é militante do movimento negro em Itajaí - SC

Um comentário: